Um terço dos Estados-membros da UE exportou armas para a Rússia
Um terço dos Estados-membros da União Europeia (UE) exportou armas para a Rússia depois do embargo de 2014 que o proíbe, segundo dados do grupo de trabalho, que regista todas as exportações militares dos 27, analisados pelo Investigate Europe.
Os dados, divulgados hoje no jornal Público, indicam que 10 países da UE exportaram armas para a Rússia depois do embargo de julho de 2014, que proíbe "a venda, fornecimento, transferência ou exportação direta ou indireta de armas e material conexo".
O embargo de 2014 seguiu-se à anexação da Crimeia e à proclamação das repúblicas separatistas do Donbass, seis meses antes.
Todos os anos, os 27 estados-membros enviam os seus dados ao Grupo de Trabalho sobre Exportação de Armas Convencionais do Conselho da UE, o COARM.
Os dados analisados pelo consórcio Investigate Europe indicam que entre 2015 e 2021 pelo menos 10 Estados-membros exportaram armas para a Rússia no valor total de 346 milhões de euros.
De acordo com a investigação do consórcio, alguns países da União Europeia usaram uma lacuna legal nos regulamentos para continuar o seu comércio.
O embargo "não se aplica aos contratos e acordos, nem às negociações em curso realizadas antes de 01 de agosto de 2014, nem para o fornecimento de peças sobressalentes e serviços necessários para a manutenção e segurança das capacidades existentes", segundo o consórcio.
O COARM explicou numa resposta enviada ao Investigate Europe que "o embargo de armas da UE contém a seguinte isenção: contratos celebrados antes de 01 de agosto de 2014 ou contratos acessórios para a execução de tais contratos. os números que se encontram na base de dados devem ser abrangidos por esta isenção. os Estados-membros são responsáveis por assegurar o cumprimento do embargo de armas e da Posição Comum da UE".
Segundo o COARM, os Estados-membros não estão a armar a Rússia.
A análise do Investigate Europe coloca a França muito à frente dos parceiros da UE, com 44% das vendas à Rússia.
A França emitiu desde 2015 licenças de exportação para "bombas, foguetes, torpedos, mísseis, cargas explosivas", mas também "equipamento de imagem, aviões com os seus componentes e drones".
Segundo a pesquisa, em 2014 os negociantes de armas franceses autorizavam envio para a Rússia de "agentes químicos ou biológicos tóxicos, agentes antimotim e substâncias radioativas".
A seguir à França, surge a Alemanha, que segundo o consórcio, exportou 121,8 milhões de euros para a Rússia, representando 35% do total das exportações.
Atrás da França e da Alemanha surgem também a Itália, Áustria, Bulgária, República Checa, Croácia, Finlândia, Eslováquia e Espanha, mas com quantidade de vendas menores. Portugal não faz parte deste grupo.