Diplomacia dá primeiros sinais de esperança e Conselho Europeu expulsa Rússia
Russos e ucranianos deram hoje os primeiros sinais de esperança para um acordo que coloque fim à guerra iniciada por Moscovo em 24 de fevereiro, no dia em que o Conselho Europeu expulsou a Rússia.
Horas depois de o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, ter admitido que as exigências da Rússia estão a tornar-se "mais realistas", o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov, admitiu que há "alguma esperança" num compromisso.
A Rússia reafirmou mesmo que está disposta a aceitar uma cimeira entre o seu Presidente, Vladimir Putin, e o seu homólogo ucraniano, se o objetivo for alcançar um acordo e não para "reunir-se por reunir".
Os 'media' internacionais noticiaram que a Ucrânia e a Rússia terão alcançado avanços para um acordo de paz de 15 pontos, que contempla um cessar-fogo imediato e a retirada das tropas russas se Kiev se comprometer com a neutralidade.
Nos termos desse acordo, a Rússia pretende um estatuto de neutralidade para a Ucrânia semelhante ao austríaco ou sueco, mas as autoridades de Kiev responderam que o modelo "só pode ser 'ucraniano'" e exigiram garantias de segurança em caso de agressão.
O porta-voz do Kremlin (Presidência russa), Dmitri Peskov, disse hoje que "o modelo austríaco ou sueco de um Estado desmilitarizado está a ser discutido para a Ucrânia e pode ser visto como uma opção para um compromisso", segundo as agências noticiosas russas.
Entretanto, o Conselho da Europa expulsou a Rússia do principal órgão de direitos humanos do continente devido à invasão e guerra na Ucrânia, numa ação sem precedentes, cujo processo já tinha sido iniciado por Moscovo.
O comité da organização, composta por 47 Estados-membros, disse, em comunicado, que "a Federação Russa deixou de ser membro do Conselho da Europa a partir de hoje, 26 anos após a sua adesão".
Numa comunicação por vídeo perante o Congresso dos EUA, Zelensky pediu aos norte-americanos ajuda para obter uma zona de exclusão aérea e citou os ataques a Pearl Harbor e 11 de setembro para comparar os horrores que o povo ucraniano tem vivido.
Volodymyr Zelensky recordou as tragédias passadas que atingiram os norte-americanos, pedindo ajuda para impedir os ataques aéreos da Rússia e a continuação das sanções contra o regime de Putin.
A partir de Moscovo, Vladimir Putin comparou essas sanções contra a Rússia a perseguições antissemitas e prometeu ajudar os alvos da reação ocidental à invasão da Ucrânia.
"A operação [na Ucrânia] está a ser realizada com sucesso, em estrita conformidade com os planos preestabelecidos", disse Putin durante uma reunião governamental transmitida pela televisão, segundo relato da agência francesa AFP.
Putin reafirmou que Moscovo não tenciona ocupar a Ucrânia e que ordenou a ofensiva porque tinham sido esgotadas "todas as opções diplomáticas".
Em Bruxelas, os ministros da Defesa da NATO voltaram a encontrar-se numa reunião extraordinária consagrada à guerra lançada pela Rússia na Ucrânia.
No final, o secretário-geral, Jens Stoltenberg, disse que a NATO vai reforçar as defesas na Europa oriental, mas sem atravessar as fronteiras da Ucrânia.
"Os aliados estão unidos no que respeita ao apoio à Ucrânia e os ministros reforçaram hoje a importância de dar assistência com equipamento avançado, sistemas de defesa aérea, armas antitanque e outros tipos de apoio, mas não haverá qualquer destacamento da NATO na Ucrânia", disse Stoltenberg.
O secretário-geral da NATO defendeu ainda o reforço da dissuasão na guerra da Ucrânia, causada pela invasão russa, visando contornar "erros de cálculo e mal-entendidos" de Moscovo face à preparação dos aliados, sem entrar no conflito.
Também hoje, a presidente do Parlamento Europeu (PE), Roberta Metsola, disse que os eurodeputados vão votar na próxima semana um pacote de ajuda financeira aos Estados-membros e países vizinhos da União Europeia (UE) que acolhem refugiados da Ucrânia.
Naquele que foi o primeiro contacto formal entre os EUA e a Rússia desde o início da invasão da Ucrânia, o conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, conversou hoje com o secretário do Conselho de Segurança russo, Nikolai Patrushev.
"Sullivan disse ao general Patrushev que se a Rússia leva a diplomacia a sério, então Moscovo deve parar de atacar as cidades ucranianas", disse a Casa Branca, em comunicado.
A outro nível, os líderes das igrejas Católica e Ortodoxa russa, o papa Francisco e o patriarca Kirill, falaram por telefone sobre a guerra na Ucrânia.
Ainda no plano diplomático, o Governo alemão fez saber que não apoia a proposta apresentada na terça-feira pela Polónia de enviar tropas da NATO para a Ucrânia em missão de paz para garantir corredores humanitários.
"Não haverá pessoal da NATO fora do território. Não haverá soldados da NATO na Ucrânia", disse o porta-voz do governo alemão Steffen Hebestreit, referindo a posição que o chanceler, Olaf Scholz, já expressou noutras ocasiões, contrariando posições de outros países, como a Lituânia, que poucas horas antes tinha defendido esta posição.
Em resposta às agressões russas no terreno de guerra, o Presidente norte-americano, Joe Biden, anunciou o envio de mais armas antiaéreas e 'drones' para ajudar a Ucrânia a defender-se da Rússia, assim como mais 800 milhões de dólares (727,7 milhões de euros) em assistência militar.
Isto enquanto o Ministério da Defesa britânico diz acreditar que as forças russas estão a enfrentar problemas para superar os "desafios" que um país como a Ucrânia apresenta, no sentido de realizar avanços no terreno.
Numa nota divulgada através da rede social Twitter, o Ministério da Defesa do Reino Unido indica que o avanço da Rússia na Ucrânia está "bloqueado" pela falta de capacidade de manobra, facto que foi aproveitado pelas forças ucranianas.
Ainda assim, as tropas russas bombardearam hoje um teatro de Mariupol, no sudeste da Ucrânia, que servia de abrigo a centenas de civis residentes na cidade cercada, fazendo um número ainda indeterminado de mortos e feridos, segundo fontes ucranianas.
A Rada (parlamento) da Ucrânia indicou que no interior do teatro, que ficou reduzido a escombros, se tinham refugiado dos bombardeamentos muitos civis e que se desconhece se há sobreviventes, porque nas imediações do edifício decorre uma intensa batalha e ninguém consegue entrar na zona.
Os ataques russos contra civis ucranianos que fugiam de Mariupol, cidade cercada no sudeste da Ucrânia, também causaram mortos e feridos, incluindo uma criança que ficou gravemente ferida.
No norte da Ucrânia, em Chernihiv, pelo menos dez pessoas morreram, quando tropas russas dispararam sobre civis que se encontravam na fila para comprar pão, indicaram as autoridades ucranianas.
A Ucrânia já deteve cerca 1.000 invasores russos, garantiu Zelensky, numa reunião com o procurador do Tribunal Penal Internacional Karim Khan, que está a investigar alegações de crimes de guerra cometidos pela Rússia.
Entretanto, o presidente do Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV), Peter Maurer, reuniu, em Kiev, com o presidente da câmara local, Vitali Klichko, para discutir a assistência humanitária à capital ucraniana, sitiada pelo exército russo.
Maurer disse ser fundamental dar uma resposta à crise humanitária numa guerra que já fez pelo menos 726 mortos e 1.174 feridos entre a população civil nos primeiros 20 dias de combates, segundo dados do Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos.
A agência da ONU sublinhou que estes são os números dos casos já confirmados, mas que o número real de vítimas da invasão russa da Ucrânia deverá ser muito superior.
Entre os mortos, há pelo menos 104 mulheres e 52 crianças, ao passo que no balanço de feridos foram contabilizadas pelo menos 77 mulheres e 63 menores de idade, segundo os números diariamente atualizados pelo organismo dirigido por Michelle Bachelet.