Crónicas

O PS do costume, sem soluções

Mudar o “oficial de dia” e pensar que fica tudo resolvido não é possível. O PS vai derrubando líderes sucessivos e os substituindo, mas o essencial fica na mesma

O PS elegeu a pobreza como tema central do seu debate. Segundo o novo líder, Sérgio Gonçalves, o nível de pobreza da RAM é resultado das políticas executadas pelo governo regional.

É preciso sermos sérios nestas avaliações, sob pena de não passar de arremesso político sem credibilidade.

Somos uma Região com pobreza, mas não somos uma Região pobre. Ter dívida não é sinal de pobreza. Não a pagar já é. E a Madeira tem regularizado a sua dívida pública.

A Madeira e o Porto Santo têm tudo para serem pobres. Muito pobres.

Como consequência da sua insularidade, distância do continente mais próximo, reduzida dimensão, orografia acidentada, ausência de matérias primas, muito pouca população e dez anos de total loucura financeira. Verdadeiros predadores financeiros que ainda têm a lata de darem palpites sobre o nosso futuro. Expliquem todos esses mamarrachos financeiros ou calem-se! Estamos a viver mal por causa dessa dívida e projectos megalómanos. E ainda querem que Lisboa pague. Quem paga loucuras de outros?

Abençoada TROIKA. Não fora o PAEF onde já não íamos em dívida pública? Respondam a isto e deixem-se de escrever sobre a constituição, estratégias para o futuro da Madeira, preço dos combustíveis e outras tretas que tais.

Felizmente os madeirenses e portosantenses já compreenderam que esta nova governação social democrata nada tem a ver com a anterior irresponsabilidade. A bem do futuro.

É óbvio que vivemos um tempo prejudicado pela pandemia COVID 19 e, agora, pela guerra na Europa. As contas orçamentais estão alteradas. Mas sob controlo.

Pedro Calado e, agora, Rogério Gouveia puseram tudo na ordem.

Até a principal actividade económica, o turismo, se encontra estrangulada pelos condicionamentos do aeroporto. Nas circunstâncias actuais da operacionalidade aeroportuária muito dificilmente se poderá crescer de forma sustentada.

Depois temos os anti-desenvolvimento do costume, tradicionalmente albergados no partido socialista, e que a tudo se opõem usando os mais variados argumentos de interesse pessoal ou egoísta.

Como estão bem e se sentem confortáveis nada querem de alterações. Os outros - os que ainda não estão bem - que se lixem. O expoente máximo desta insanidade são os não madeirenses que para aqui vieram viver. Oriundos de regiões pré-históricas vieram encontrar na Madeira, do final do século XX, o paraíso na terra. E como para eles o que encontraram é mais do que alguma vez sonharam ter fazem tudo para que em nada se mexa afim de manterem a sua zona de conforto.

É ver os ambientalistas importados. Dão palpites sobre o que fica bem e o que não deve ser feito, como se nós, aqui há séculos, fôssemos tomar as opções dos que chegaram por não terem qualidade de vida na origem. Desculpem, vieram viver com o que havia e vão continuar a ter o que nós fizermos. Dar sugestões é uma coisa, mas já se irritarem com o que nós fazemos na nossa própria casa é atitude inaceitável.

Dei-me à maçada de ler a moção geral do congresso socialista e as muitas moções sectoriais. Desafio o PS a indicar uma proposta concreta para resolver um problema qualquer. Não existe. ZERO.

Parece a resposta de um médico à pergunta do seu filho jovem: “papá quais são as doenças que eu posso ter quando for grande”. E o pai lá disse tudo o que tinha aprendido na universidade.

É conversa da treta, simpática, medianamente escrita mas sem qualquer ação concreta. Não fosse sério era para rir às gargalhadas.

Ou seja, por ali não é de esperar contributos. Aliás, o PS vai derrubando líderes sucessivos, e os substituindo por amigos do mesmo grupo, sem nada de novo. Mudar o “oficial do dia” e ficar tudo resolvido não é possível.

Tenho para mim que Sérgio Gonçalves é pessoa séria e muito trabalhador. O seu rasto num grupo económico vai trazer dissabores. Mas sou o primeiro a dizer que será injusto ir por aí. Lidei o suficiente com ele para saber que não tem esse pecado original.

Mas não basta trabalho. É preciso discurso mobilizador, equipa nova e dinâmica e cair em graça. Esta a parte mais difícil.

Duplo clubismo

Os adeptos, muitos deles sócios, do Sporting organizaram um almoço com o presidente do clube num restaurante de Câmara de Lobos. Na sua convocatória iam ao cúmulo de incentivarem os comensais a irem de seguida aos Barreiros apoiarem a sua equipa contra o Marítimo (in DN).

O presidente do Marítimo criticou o duplo clubismo enraizado nos madeirenses adeptos de futebol. Com toda a razão. Já escrevi sobre isso.

Isto é “doença” que precisa tratamento. Ser do Marítimo ou do Nacional não é suficiente para o adepto madeirense. Precisa ser campeão, pelo menos de vinte em vinte anos, para sustentar a sua paixão pelo futebol. Mesmo nos muitos anos, já distantes, que o Sporting não veio à Madeira chegava-lhes ouvir na rádio os relatos de cada jogo. O futebol ao vivo, desde que não desse para ser campeão nacional, não enchia as medidas. Muitos, mesmo tendo jogado no seu clube regional, sempre cultivaram o seu clube continental. Pagam quotas de lugares cativos em Lisboa ou no Porto que raramente frequentam. Para irem ver o Nacional ou o Marítimo só à borla. E por vezes recusam convites porque não têm pachorra. Não gastam dinheiro com o seu clubinho madeirense. Aposto que os que levaram ao almoço cachecóis do Sporting não têm qualquer exemplar do Marítimo ou do Nacional. Camisola então não se fala.

Tenho uma neta com o pai e o avô do Sporting e do Marítimo em simultâneo. Eu como sabem sou do Nacional, o mesmo acontecendo com a mãe. Quando pergunto à neta de que clube é, responde que é do Sporting e do Nacional. Lamentável, mas as coisas são como são. Ainda bem que não cá estava na data do almoço para não assistir a espectáculo tão degradante e deprimente. Todos perdem um pouco da razão e compostura habitual. Até vi uns vestidos de fato e gravata para ir a uma espetada.

Invejo os ingleses de Exeter, cidade onde estudei, que todos os sábados ou enchem o seu estádio ou o comboio para a cidade onde joga o clube. Sem nunca exigirem serem campeões para apoiarem o seu único clube de sempre. Alguns levam cachecóis, mas porque têm frio.

Fora de Londres, Liverpool e Manchester não há adeptos dos grandes clubes. Há adeptos das equipas de cada cidade ou vila, que ajudam os seus clubes o melhor que podem. Dia de jogo é para ir ao estádio e fazer ouvir o seu apoio incondicional. Podem perder todos os jogos que não mudam o ritual. Quando ganham um é festa. Melhor se for na Taça de Inglaterra.

Na Taça de Portugal, à Choupana, vão cem ou duzentos espectadores. A própria equipa joga com a “segunda linha”. O Mafra está nas meias finais. O Nacional quando lá chegou, por duas vezes, era de “primeira”.

Mas ninguém se importa. É assunto tabu. E paciência! Vamos continuar pequeninos e orgulhosos da “nossa” estupidez.

A tirada de Rui Fontes foi tiro certeiro e oportuno.

ONU

A ONU tem de acabar no Conselho de Segurança com o direito de veto em causa própria.