Von der Leyen alerta que UE só estará segura quando não depender do gás russo
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse hoje que a União Europeia (UE) "só estará segura" quando deixar de estar dependente do gás russo, anunciando como alternativas entregas antecipadas dos Estados Unidos, Noruega e Azerbaijão.
"A Europa só estará segura quando acabarmos com a nossa dependência excessiva do gás russo. Não podemos simplesmente continuar a depender de um fornecedor que utiliza energia para nos pressionar, temos de diversificar o nosso fornecimento fora da Rússia e junto de fornecedores de confiança e temos de investir massivamente em energias renováveis", declarou a líder do executivo comunitário.
Numa intervenção por vídeo numa conferência no Parlamento Europeu sobre estabilidade, coordenação económica e governação, Ursula von der Leyen apontou que "a boa notícia é que a UE tem tudo para agir", dado ser "líder mundial na transformação 'verde'".
"O caminho está definido e agora vamos acelerar a transição 'verde', que é um investimento estratégico na nossa independência e na nossa segurança", acrescentou.
No imediato, e devido à dependência da UE face ao gás russo, "estamos a diversificar o nosso fornecimento", sendo que "os Estados Unidos, a Noruega, o Azerbaijão e outros estão a acelerar as entregas [de gás]", revelou Ursula von der Leyen.
A responsável advogou ainda investimento em infraestruturas de GNL (gás natural liquefeito) e em eficiência energética.
"Assim, podemos acabar com a nossa dependência excessiva do gás russo muito antes de 2030", estimou.
Admitindo que "as próximas semanas e meses sejam difíceis", Ursula von der Leyen pediu cooperação para "ajudar os amigos ucranianos nos tempos mais árduos".
"Juntos, podemos tornar esta guerra insustentável para o Kremlin [regime russo] e dar uma oportunidade à diplomacia e é isto que a nossa União representa", concluiu.
Há uma semana, a Comissão Europeia propôs a eliminação progressiva da dependência de combustíveis fósseis da Rússia antes de 2030, com aposta no GNL e nas energias renováveis, estimando reduzir, até final do ano, dois terços de importações de gás russo.
Também na passada terça-feira, o executivo comunitário anunciou que vai apresentar uma proposta legislativa para exigir que a armazenagem subterrânea de gás na UE esteja pelo menos 90% preenchida até outubro de cada ano, para evitar problemas de fornecimento.
A Comissão Europeia avançou ainda com orientações aos Estados-membros para responder à escalada dos preços energéticos, explicando que os países podem intervir nas tarifas da luz perante "circunstâncias excecionais" e admitindo limites temporários na UE.
A comunicação surgiu numa altura de aceso confronto armado na Ucrânia provocado pela invasão russa, tensões geopolíticas essas que têm vindo a afetar o mercado energético europeu, já que a UE importa 90% do gás que consome, sendo a Rússia responsável por cerca de 45% dessas importações, em níveis variáveis entre os Estados-membros.
A Rússia é também responsável por cerca de 25% das importações de petróleo e 45% das importações de carvão da UE.
Devido a esta dependência, Bruxelas tem vindo a defender a necessidade de garantir a independência energética da UE face a fornecedores "não fiáveis" e aos voláteis combustíveis fósseis.
A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que já causou pelo menos 691 mortos e mais de 1.140 feridos, incluindo algumas dezenas de crianças, e provocou a fuga de cerca de 4,8 milhões de pessoas, entre as quais três milhões para os países vizinhos, segundo os mais recentes dados das Nações Unidas.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas a Moscovo.