A Guerra Mundo

Sentimento europeu antirrusso visa principalmente Putin e não o povo da Rússia

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A invasão russa da Ucrânia tem sido acompanhada por um aumento do sentimento antirrusso na Europa Central e Ocidental, com incidentes relatados em vários países, mas as acusações são direcionadas principalmente ao presidente Vladimir Putin e não à Rússia.

No famoso restaurante russo "Skamiejka" em Varsóvia, 'e-mails' e mensagens de ódio chegaram em massa desde o início da guerra, bem como telefonemas anónimos a convidar os russos "a saírem" da Polónia, de acordo com um trabalho da agência de notícias AFP hoje divulgado.

A chefe russa do espaço de restauração, Tamara Rochminska, há 41 anos a viver em território polaco, publicou na sua página do Facebook -- adornada com a bandeira ucraniana -- uma mensagem convidando as pessoas a parar com os insultos, especificando que os seus funcionários -- ucranianos -- estavam muito angustiados.

"Lembrem-se, por favor, que a Rússia e os russos não são a mesma coisa que Putin e as suas tendências imperialistas", acrescentou.

Durante as manifestações antiguerra na Ucrânia em Varsóvia, os jornalistas da AFP observaram sobretudo slogans e faixas dirigidas a Vladimir Putin, sendo comparado a Adolf Hitler.

A Polónia foi a primeira vítima do Pacto Molotov-Ribbentrop de 1939, assinado entre a União Soviética e a Alemanha Nazi, e foi integrada à força no bloco soviético após a guerra, como os outros países da Europa Oriental.

O chefe de Estado russo tem o mesmo tratamento na Alemanha, Áustria ou República Checa, onde brotam os slogans "Parem a guerra, parem Putin" ou "Que se lixe o Putin".

Na Alemanha, a imprensa registou alguns incidentes.

Na Renânia do Norte -Vestfália (oeste), a montra de uma loja que vendia produtos russos foi destruída e coberta com grafites, um restaurante recusou-se a receber clientes russos em Baden-Württemberg (sudoeste) e, em Munique (sul), um médico não quis atender pacientes russos.

O Kremlin, cuja "narrativa" toma há anos o termo "russofobia" como leitmov (fórmula que surge com frequência num discurso) -- especialmente desde que a Rússia enfrentou sanções pela anexação da Crimeia --, queria ver nos recentes acontecimentos a confirmação das suas informações".

"Em vários países ocidentais, há um ambiente de ódio contra os russos que sentimos cada vez mais. É muito perigoso, os nossos cidadãos devem estar em alerta", disse hoje o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov.

Na República Checa, país que ainda guarda a memória da intervenção das tropas de Moscovo em 1968, na Primavera de Praga, os meios de comunicação social têm noticiado casos de insultos de alunos russos nas escolas primárias e secundárias.

Mas o ministro do Interior checo, Vit Rakusan, disse que os residentes russos na Europa são os últimos culpados pelas políticas decididas no Kremlin.

"Os russos na República Checa costumam viver aqui, porque não concordam com o regime de Putin e não deveriam ser atacados", afirmou.

A situação é diferente nos países bálticos, anexados pela União Soviética no final da Segunda Guerra Mundial e que permaneceram sob seu controlo até 1990, e na Geórgia, país do Cáucaso onde a Rússia interveio militarmente em 2008. Todos esses países são a casa de importantes minorias de língua russa.

Na Geórgia, alguns recusam-se a arrendar alojamento "aos agressores, russos e bielorrussos", grafites hostis contra os russos apareceram nas ruas e uma petição está a circular para exigir a implementação de vistos para cidadãos russos.

Na Lituânia, a ministra do Interior, Agne Bilotaite, reuniu-se com a comunidade russa no porto de Klaipeda na terça-feira, onde um padre ortodoxo lhe disse que os seus fiéis, especialmente os idosos que não falam lituano, "estavam com medo".

Agne Bilotaite disse que demonstrações de ódio contra a comunidade russa não vão ser toleradas.

Na Estônia, um país que, como os seus vizinhos, teme uma guerra "híbrida" com membros da comunidade de língua russa, uma associação de proprietários de armas propôs que as licenças fossem suspensas para residentes russos.

O Ministério do Interior estónio argumentou que tal medida só se justificaria se a segurança pública estivesse ameaçada.

Na Eslováquia, um grande memorial da Segunda Guerra Mundial, conhecido como Slavin, foi repintado em azul e amarelo, as cores da bandeira ucraniana. A embaixada russa em Bratislava denunciou a ação como um "ato de vandalismo".

Para o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Eslováquia, este gesto foi apenas uma chamada de atenção para acabar com "essa guerra absurda", enquanto a Câmara Municipal da capital eslovaca indicou que o monumento seria restaurado rapidamente.