Constituição venezuelana impede instalação de bases militares russas
A Rússia não pode instalar bases militares em território venezuelano, no âmbito do conflito entre a Rússia e a Ucrânia, disse hoje a vice-presidente da Venezuela, Delcy Rodríguez, sublinhando que está proibido pela Constituição daquele país latino-americano.
"A Constituição venezuelana não permite o estabelecimento de bases militares estrangeiras", disse ao ser questionada sobre essa "hipotética possibilidade".
Delcy Rodríguez falava na Turquia, durante o II Foro Diplomático de Antália, transmitido pelo canal multi-estatal de televisão Telesur.
"É uma resposta muito fácil, porque se trata de um mandato constitucional", sublinhou.
A vice-presidente da Venezuela sublinhou ainda que o Governo venezuelano tem manifestado "grave preocupação" desde que surgiu o conflito entre a Rússia e a Ucrânia.
"Havia formas de evitar conflitos, aprofundando a diplomacia. Maduro (Nicolás, Presidente da Venezuela) apelou à paz, à mediação e ao diálogo efetivo entre as partes. Se registaram provocações que poderiam ter sido evitadas. Esta situação poderia ter sido evitada, e não sacrificar o povo da Ucrânia em um conflito armado", disse a governante.
Delcy Rodríguez sublinhou que "a Venezuela se junta às vozes que pedem uma solução pacífica e o diálogo neste conflito. Evitar o sofrimento dos povos das partes envolvidas é uma necessidade".
Questionada sobre a recente visita de uma delegação norte-americana, a Caracas explicou que "foi os EUA que se afastaram da Venezuela, que romperam relações energéticas, económicas e de cooperação".
"As portas da Venezuela estão abertas a qualquer país que queira chegar com respeito, que nos considere iguais e que respeite o princípio da autodeterminação dos povos", disse.
Segundo o diário venezuelano El Universal, Delcy Rodríguez sublinhou ainda que Caracas "está apegada ao lado correto da história, sabendo que não há outra forma de resolver o conflito".
"O diálogo é o caminho. Está nas nossas mãos tomar o caminho do diálogo para a pluralidade das nações. Se impõe o direito e a diplomacia", frisou Delcy Rodríguez que na quinta-feira se reuniu, na Turquia, com o ministro de Assuntos Exteriores da Federação da Rússia, Serguéi Lavrov.
Em pelo menos duas oportunidades, o Presidente Nicolás Maduro disse estar preocupado com a possibilidade de o conflito entre a Rússia e a Ucrânia se tornar numa "guerra nuclear mundial" e pediu para se evitar uma escalada.
"A guerra mundial já começou no [plano] económico e o nosso alerta é que não escale mais e chegue a uma guerra militar ou, o que é pior para a humanidade e a sobrevivência da nossa espécie neste planeta, a uma guerra nuclear", alertou Nicolás Maduro, na quarta-feira, durante um encontro com trabalhadores.
Segundo Maduro "Há uma guerra em curso, na fronteira sul da Rússia, por culpa dos que não cumpriram os acordos, da Europa, do Ocidente e da NATO, com a Rússia, dos que tentaram cercar a Rússia e apontar-lhes armas nucleares, dos que anunciaram que a Ucrânia iria ter armas nucleares, apontando à Rússia", disse Maduro, sublinhando serem estes "os culpados do conflito armado".
O perigo é que "o conflito se expanda à Europa" e se torne numa "guerra nuclear mundial", alertou.
Em 05 de março, Nicolás Maduro recebeu uma delegação de alto nível da Casa Branca no palácio presidencial de Miraflores, em Caracas. O encontrou foi, disse, "cordial e muito diplomático".
Segundo a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, a viagem teve como objetivo "discutir diferentes questões, entre elas, claro, a segurança energética" numa altura de escalada do preço do petróleo, devido ao conflito entre a Rússia e a Ucrânia.
Na imprensa local a visita foi vista como uma tentativa de isolar o Presidente russo, Vladimir Putin, de quem o Governo de Caracas é aliado.
Em 08 de março a Venezuela libertou dois norte-americanos, Gustavo Adolfo Cárdenas, antigo gestor da Citgo (filial da petrolífera estatal da Venezuela nos EUA), e José Alberto Fernández, um turista cubano-americano acusado de terrorismo em fevereiro de 2021.
A Rússia lançou a 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que já causou pelo menos 549 mortos e mais de 950 feridos entre a população civil e provocou a fuga de 4,5 milhões de pessoas, entre as quais 2,5 milhões para os países vizinhos, segundo os mais recentes dados da ONU.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas a Moscovo.