Opositores russos defendem reforço das sanções ao regime de Putin
O reforço sistemático das sanções internacionais ao Presidente da Rússia, Vladimir Putin, e seu círculo restrito, são a forma mais eficaz para impor o fim da guerra e a sua derrota política, defenderam ontem dois opositores russos.
"Não vejo qualquer alteração no seu comportamento [de Putin], o que significa que temos de aumentar e duplicar a pressão em todas as frentes. Hoje, Josep Borrell disse que a União Europeia tem poucas opções para mais sanções... Não, há centenas de novas opções que podem perturbar Putin, também necessitamos de mais esforços para contactar a população russa e convencê-los que é errado apoiar Putin ou absterem-se", defendeu Vladimir Milov, 49 anos, no decurso de um debate virtual organizado pelo German Marshall Fund norte-americano e a Free Russia Foundation, uma organização também sediada nos Estados Unidos.
"Os produtos ainda não desaparecerem das lojas, a inflação ainda não é muito elevada, e Putin ainda acredita que pode agrupar algumas tropas e efetuar um novo assalto a Kiev, apostar na exaustão dos militares ucranianos e tentar mais uma ofensiva", prosseguiu Milov, antigo líder do partido Escolha Democrática e da coligação Liberdade do Povo.
"Temos de aumentar a pressão porque não vejo qualquer alteração na posição de Putin", insistiu o economista, que desde 2016 participou intensamente na campanha presidencial de Alexei Navalny, destacado líder da oposição russa atualmente detido.
Milov é considerado um dos autores da plataforma de Navalny divulgada em dezembro de 2017 e no seu canal do You Tube emite desde outubro de 2019 um programa semanal sobre política internacional, "Abraços com ditadores".
No decurso de um debate moderado por Jonathan Katz, diretor da Democracy Initiatives do German Marshall Fund dos Estados Unidos, e ainda com a participação de Natalia Arno, presidente da Free Russia Foundation, o reforço das sanções foi também a receita sugerida por Dmitri Gudkov, 42 anos, antigo deputado e fundador em 2018 do Partido das Mudanças.
"A elite russa deve ser penalizada. A população comum com uma orientação pró-europeia quer permanecer na Rússia. Talvez fosse necessário aplicar mais sanções aos familiares e representantes da elite de Putin. Há familiares das autoridades russas que também vivem em países europeus, nos Estados Unidos, Espanha. É necessário ser mais duro com essas pessoas, que podem tentar sair", sugeriu Gudkov, que em junho de 2021 abandonou o país para se instalar na Ucrânia, devido à pressão das autoridades em Moscovo antes das legislativas de setembro.
O opositor exilado admite que as dissensões nos círculos da oligarquia próxima do Kremlin podem ser decisivas para uma alteração de regime, em particular o efeito das sanções que alterará de forma significativa o seu quotidiano.
"Não penso que Putin pense nas consequências das sanções, porque a elite está assolada pela propaganda, e ninguém sabe a verdade sobre a Ucrânia. Putin não sente que está a perder este jogo, e é necessário pressionar o seu círculo restrito, em particular 10.000 famílias que compõem a elite russa. Sanções contra os seus familiares, contra diversas famílias, podem suscitar uma fratura", acrescentou Gudkov, que em 2013 foi expulso do partido Uma Rússia Justa, acusado de "populismo" e posteriormente detido por "suspeitas de abuso de poder", optando por sair do país.
Nas conclusões finais do debate, Vladimir Milov, numa referência à atual invasão militar russa no país vizinho, considerou que o Presidente russo não está totalmente isolado, mesmo que saiba que está confrontar-se "com um problema", e admitiu que possa pensar possuir reservas de homens e material para "atingir por fim Kiev e pelo menos dar alguma coisa aos russos".
"Isso deve reforçar os nossos meios para o travar, o que significa que é necessário preparar novas e numerosas rondas de sanções. Há muitas opções, muito dolorosas, e temos de lhe anunciar de uma fórmula clara: caso não pare a guerra, em cada 24 horas anunciamos novos pacotes de sanções. E assim sucessivamente. Será muito doloroso. Precisamos de demonstrar que mais um dia de guerra significará mais problemas", defendeu.
O economista e um dos mais destacados opositores políticos do líder do Kremlin também assinalou que "mais cedo ou mais tarde este pesadelo vai terminar" e apresentou receitas para a reconstrução dos dois países.
"Sugiro que seja criado um fundo russo gerido internacionalmente que seja responsável por todos os bens, incluindo do banco central. Porque serão necessárias verbas para compensar o que foi destruído na Ucrânia, e promover reformas. Investimentos e capitais para um fundo destinado à reconstrução da Ucrânia e da Rússia. Seria uma boa ideia e decerto apoiada internacionalmente".
Também Natalia Arno manifestou a convicção de que "todos os ditadores acabam por cair, que Putin vai colapsar", antes de recordar o envolvimento da sua organização no reforço do movimento antiguerra e a intenção de "participar na reconstrução da Rússia quando esta ditadura cair".
Natalia Arno frisou ainda a sua admiração pelo povo ucraniano e a forma como estão a enfrentar a atual situação. "A solidariedade é a nossa melhor arma contra a ditadura", concluiu.