Artigos

Putin, o filho da ….. Putina

Boris Ieltsin (BI), antigo e primeiro presidente da Rússia, de meados de 1991 a dezembro de 1999, foi o grande responsável por levar Vladimir Putin, um “siloviki” (ex-funcionários dos serviços secretos russos), no caso ex-chefe da KGB (antiga polícia secreta da URSS - União da Repúblicas Socialistas Soviéticas), para a ribalta da política na Federação Russa, e este o grande responsável por um número elevado de “silovikis” terem se apoderado do poder na nova Rússia. Foi em São Petersburgo, antiga Leninegrado, que Putin veio ao mundo e o local onde em 1991 a sua carreira política teve início, ao sair como oficial dos quadros da KGB e iniciar-se a convite e como conselheiro de Anatoli Sobtchak, presidente do Conselho de Deputados do Povo, o equivalente à assembleia municipal, personalidade que mais tarde viria a ser eleito como presidente da câmara do município. É nesta cidade que depois de passar por outros cargos municipais, chega a vice-presidente da câmara. A sua escalada em Moscovo, começaria, no entanto, em meados de 1996, pois novamente através de convite, ingressaria como assessor na administração do presidente BI. Daí até à sua designação por BI para dirigir o governo e o nomear como seu sucessor foi um ápice. Estávamos em agosto de 1999. Meses mais tarde, torna-se presidente interino, mais precisamente em 31 de dezembro de 1999, quando BI resigna ao cargo, e a 26 de março de 2000, Vladimir Putin torna-se presidente da Rússia. Mantém-se assim no poder há 22 anos e poderá, se o entender, por via do forçado referendo constitucional, entretanto efetuado, para reforma da constituição, manter-se no cargo de presidente até 2036. É caso para dizer, não há democracia que aguente, particularmente com personalidades que cresceram no meio da espionagem e autocracia e a personificam, infelizmente, eximiamente. Perante a tragédia promovida por Putin na Ucrânia, atente-se no que Marc Ferro (MF), tão brilhantemente desnuda na sua obra “O Ressentimento na história”, onde nos esclarece que o ressentimento é a evidência de uma ferida, de uma afronta que o ressentido é incapaz de ultrapassar, curar ou sublimar, onde o sujeito ressentido vive e revive essa agonia, projetando uma vingança que nunca chega, até ao momento em que tudo rompe em som e fúria, explodindo os ressentimentos que frequentemente estão recalcados. É um convite a uma reflexão atenta e séria sobre a história da humanidade que este grande historiador francês nos faz, e assim, estarmos melhor preparados para a compreender. Putin, enquadrar-se-á na penetrante análise do historiador MF, e apesar da Rússia ser hoje a maior potência nuclear à face da Terra, o seu presidente, quer também fazer-nos crer que a Rússia está militarmente permeável e assim as suas “preocupações” visualizam um potencial aumento de insegurança da Rússia, se a Ucrânia aderisse à NATO (Organização do Tratado do Atlântico Norte). É um facto que o mal e/ou a irresponsabilidade, facilmente se instalam em qualquer lugar do planeta. E é a história que nos ilustra e ensina, que basta um populista, esteja ele no Ocidente ou Oriente, dirigir a sua retórica para os marginalizados e desinformados que esta sociedade de capitalismo selvagem criou (cria), e pode-se gerar uma onda de grande perigosidade para a humanidade, em face da qual, é difícil imaginar o resultado final. Ora com o fim da organização militar “Pacto de Varsóvia”, acordo assinado entre a antiga URSS e os seus países satélites e cujo propósito era uma espécie de contrapeso à NATO, para Putin, o potencial perigo espreita, pois esta aliança militar ampliou-se, tendo, entretanto, integrado muitos países de leste que antes integravam o referido pacto. Até poderíamos alinhar nesse raciocínio, no entanto, o que não é em nenhuma circunstância aceitável, é a reação de Putin de invadir de um pais independente e soberano como é a República da Ucrânia, em resposta à possibilidade, legítima, deste país querer vir a fazer parte da Aliança Atlântica. Infelizmente, para além da invasão da Crimeia em 2014, já havíamos visto este “filme” em 2008, quando a Rússia também invadiu a Geórgia, por este país também ter tentado uma aproximação à NATO. O que assistimos nos últimos dias, mais uma vez, com a invasão da Ucrânia por parte da Rússia, é um horror, onde o sofrimento provocado à inocente população, não pode sequer ser devidamente avaliado por quem está de fora do conflito. Podemos e devemos solidarizar-nos com o povo Ucraniano, mas é difícil, por mais que tentemos sentir o terror da guerra que o povo ucraniano está a passar. É por isso dever da humanidade, no sentido Kantiano mais puro, universalizar o repúdio a mais esta agressão por parte da Rússia, e fazer o possível e o impossível para a parar.