Eurodeputados portugueses defendem sinal de abertura a futura adesão à UE
Eurodeputados portugueses sublinharam hoje, em Bruxelas, a importância de dar à Ucrânia um sinal de "abertura" ao seu pedido de adesão à UE, designadamente concedendo-lhe estatuto de país candidato, mas lembraram que o processo é moroso e complexo.
Em declarações à imprensa após a sessão plenária extraordinária do Parlamento Europeu em Bruxelas, para debater a "agressão militar russa à Ucrânia" e adotar uma resolução, eurodeputados portugueses que marcaram presença saudaram o facto de o texto adotado dar esse sinal, quando apela às instituições da UE para que "desenvolvam esforços no sentido de conceder à Ucrânia o estatuto de país candidato à adesão à UE", devendo o procedimento decorrer em conformidade com o Tratado da UE e "basear-se no mérito".
Para a deputada socialista Margarida Marques, "se houver vontade política, é possível a Ucrânia tornar-se rapidamente um país candidato à UE", sendo que "depois há todo um percurso que é necessário fazer até se tornar, se for caso disso, Estado-membro da UE".
"O que eu acho que é importante nesta resolução, é que não é só o passado, é o 'day after', é o futuro", também contemplado no texto, dado confirmar "aquilo que a UE está disposta a dar à Ucrânia e ao povo ucraniano no futuro", no imediato mas também no mais longínquo, acrescentou.
Também Paulo Rangel, do PSD, disse que era "importante dar um sinal de solidariedade com o povo ucraniano e de abertura para um processo de adesão".
Assumindo que qualquer processo de adesão deve seguir as regras dos tratados e é por norma muito moroso, o deputado considerou todavia que "aquilo que era importante era dar o sinal [de abertura] nesta fase em particular, e, especialmente, não ceder à chantagem de Vladimir Putin", recordando que Suécia e Finlândia, dois Estados-membros da UE, já foram "objeto de ameaças diretas e até graves da parte de Putin", pelo que "a UE também tem que dizer que está completamente preparada para receber, de acordo com os procedimentos habituais, a Ucrânia".
Já o deputado José Gusmão, do Bloco de Esquerda, frisando que "o processo de adesão à UE é um processo moroso", considerou que "a abertura da UE a esse nível é total", enquanto o deputado comunista João Pimenta Lopes considerou que "essa não será neste momento a questão essencial" para se sair da situação de grande tensão em que a região se encontra.
Durante o debate de hoje no Parlamento Europeu, um dia depois de o Presidente ucraniano, Vlodymyr Zelensky, ter assinado formalmente o pedido de adesão da Ucrânia à UE, a presidente da Comissão Europeia disse que a União Europeia e a Ucrânia "estão mais próximas do que nunca", mas "há ainda um longo caminho a percorrer", só se devendo falar sobre os próximos passos depois de se pôr fim a esta guerra.
Por seu turno, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, admitiu existirem "pontos de vista diferentes" entre os líderes da UE sobre a atribuição de estatuto de candidato à Ucrânia, tendo pedido um parecer à Comissão sobre o assunto.
"Há momentos, o Presidente Zelensky olhou-nos nos olhos e abriu o seu coração e [...] pediu para que a União Europeia reconheça oficialmente a Ucrânia como um país candidato. Caber-nos-á a nós, enquanto UE, agir de acordo com os tempos, mas sabemos que vai ser difícil porque sabemos que existem pontos de vista diferentes na Europa e várias opiniões sobre este assunto", reconheceu Charles Michel.
A Rússia lançou na quinta-feira de madrugada uma ofensiva militar na Ucrânia, com forças terrestres e bombardeamento de alvos em várias cidades, que já mataram mais de 350 civis, incluindo crianças, segundo Kiev. A ONU deu conta de mais de 100 mil deslocados e mais de 660 mil refugiados na Polónia, Hungria, Moldova e Roménia.
O Presidente russo, Vladimir Putin, disse que a "operação militar especial" na Ucrânia visa desmilitarizar o país vizinho e que era a única maneira de a Rússia se defender, precisando o Kremlin que a ofensiva durará o tempo necessário.
O ataque foi condenado pela generalidade da comunidade internacional e a União Europeia e os Estados Unidos, entre outros, responderam com o envio de armas e munições para a Ucrânia e o reforço de sanções para isolar ainda mais Moscovo.