Conversações de Viena com o Irão recomeçam esta terça-feira
O Irão e a comunidade internacional vão retomar esta terça-feira, em Viena, as negociações sobre o acordo nuclear de 2015, com o Governo de Teerão a insistir no levantamento das sanções económicas impostas pelos Estados Unidos.
O anúncio da oitava ronda de negociações do chamado Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA, na sigla em inglês), de que os Estados Unidos se retiraram em maio de 2018, foi feito pela União Europeia (UE), que está a coordenar o processo.
"Após consultas nas capitais com os respetivos governos, os participantes continuarão as discussões sobre a perspetiva de um possível regresso dos Estados Unidos ao JCPOA e sobre a forma de assegurar a implementação plena e efetiva do acordo por todas as partes", disse a UE numa declaração divulgada em Bruxelas.
Em Teerão, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros iraniano, Said Khatibzadeh, disse que a delegação do Irão "está em Viena para retirar as sanções" aplicadas ao país pelos EUA.
"Estamos concentrados nos benefícios económicos do JCPOA", disse Khatibzadeh na conferência de imprensa semanal, citado pela agência espanhola EFE.
As observações do porta-voz iraniano surgiram depois de os EUA terem concedido, na sexta-feira, derrogações para certas atividades de cooperação nuclear civil com o Irão.
As isenções de sanções permitirão a outros países e empresas estrangeiras trabalhar em projetos civis no reator de água pesada de Arak, no reator de investigação de Teerão e na central nuclear de Bushehr.
A União Europeia descreveu a mudança como útil.
O diplomata iraniano considerou, no entanto, que a medida dos EUA é insuficiente e que o acordo deve oferecer benefícios económicos para o Irão.
Khatibzadeh reiterou que Teerão "não pode permitir" que os EUA sancionem empresas estrangeiras que invistam no Irão.
Disse ainda que o acordo não trouxe quaisquer benefícios económicos para o Irão nos últimos anos.
"Esperamos que a delegação dos EUA regresse a Viena com instruções claras sobre como cumprir as suas obrigações de levantamento de sanções", disse Khatibazadeh, citado pela agência France-Presse.
O secretário do Conselho Supremo de Segurança Nacional do Irão, Ali Shamkhani, defendeu, no domingo, a importância de criar equilíbrio nos compromissos das conversações de Viena.
"Apesar dos progressos limitados (...), ainda estamos longe de alcançar o equilíbrio necessário nos compromissos das partes", escreveu Shamkhani na rede social Twitter, citado pela agência oficial IRNA.
"As decisões políticas em Washington são requisitos de equilíbrio de compromissos para se chegar a um bom acordo", acrescentou.
O ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano, Hosein Amir Abdolahian, disse, no sábado, que as novas isenções de sanções são insuficientes.
O acordo foi assinado em 2015, entre o Irão e os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas (EUA, Rússia, França, Reino Unido e China), mais a Alemanha.
A Administração de Donald Trump retirou unilateralmente os EUA do acordo em 2018, e restabeleceu as sanções económicas contra Teerão.
A chegada à Casa Branca de Joe Biden ajudou a reavivar as discussões, com os norte-americanos a participarem indiretamente, sem nunca se terem reunido com os iranianos.
Após cinco meses de interrupção, as conversações recomeçaram no final de novembro de 2021, entre o Irão e os países que ainda fazem parte do acordo (Alemanha, China, França, Reino Unido e Rússia).
As conversações visam a reintegração dos EUA no JCPOA e fazer com que o Irão volte a cumprir os seus compromissos, uma vez que Teerão se libertou gradualmente das restrições impostas pelo acordo, em resposta às medidas norte-americanas.
O acordo de 2015 visava oferecer ao Irão um alívio das sanções internacionais em troca de limitar drasticamente o seu programa nuclear, sob rigoroso controlo da ONU, garantindo que não estava a tentar desenvolver armas nucleares, como sempre afirmou.