Pelo menos dez demissões na Comissão Política Nacional do PAN
O porta-voz regional e cabeça de lista pela Região Autónoma da Madeira, Joaquim de Sousa, entre os demissionários
Pelo menos dez membros da Comissão Política Nacional do PAN apresentaram a demissão daquele órgão, entre os quais o ainda deputado Nelson Silva e os porta-vozes regionais dos Açores e Madeira, alegando "asfixia democrática interna".
Abandonaram o órgão máximo de direção política do partido Pessoas-Animais-Natureza entre congressos o deputado Nelson Silva (que falhou a eleição para a próxima legislatura), o porta-voz regional e deputado à Assembleia da Região Autónoma dos Açores, Pedro Neves, o porta-voz regional e cabeça de lista pela Região Autónoma da Madeira, Joaquim de Sousa, e ainda vários representantes e membros de comissões distritais e regionais.
Em comunicado, estes dirigentes demissionários queixam-se de "total asfixia democrática interna" e justificam a saída "com o chumbo da proposta para a realização de um congresso eletivo extraordinário com vista à discussão e balanço das eleições legislativas de 2022 e retificação dos estatutos, devolvendo a palavra ao órgão máximo do partido em ambiente de discussão democrática interna e panorama alargado".
A Comissão Política Nacional do PAN é composta por 27 membros efetivos eleitos em congresso e, com a alteração dos estatutos no último congresso do partido, em junho, passou a incluir também um representante de cada Comissão Política Distrital e de cada Estrutura Regional Autónoma (que gozam de autonomia política, organizativa e financeira), bem como por um representante da estrutura da juventude, cuja formação também foi aprovada em congresso.
No comunicado, os dirigentes que abandonaram a Comissão Política Nacional referem que, com a rejeição dos novos estatutos, ficam "de fora da direção nacional metade dos seus dirigentes por inerência que foram nomeados por todas as assembleias distritais e regionais do partido". Estes dirigentes ficam "sem direito a voto" nas reuniões daquele órgão.
Alguns dos dirigentes que abandonaram o órgão eram membros efetivos eleitos em congresso e outros tinham assento por inerência. De acordo com Nelson Silva, um dos demissionários, com o 'chumbo' dos novos estatutos os representantes locais "perderam o poder de voto e a efetividade" no órgão.
Com a rejeição das alterações aos estatutos, fica em vigor a versão anterior ao congresso e novas mudanças terão de ser aprovadas em congresso.
No comunicado, os dirigentes do PAN apontam "falta de maturidade e lucidez política nas análises dos resultados eleitorais pouco realistas que sustentam as causas da dramática descida de votos, sobretudo em externalidades", acusam a Comissão Política Permanente (órgão mais restrito) de "pouca disponibilidade" para debater "as opções que contribuíram para a derrota, cerrando fileiras às opiniões divergentes" e criticam que "apenas uma entropia pode justificar a resistência em não querer reconhecer os próprios erros".
E elencam aquilo que consideram ser os erros da direção: "uma mensagem de posicionamento político difuso após eleições, uma estratégia de comunicação e design falhadas e completamente contrárias às soluções internas que tinham sido bem sucedidas no passado, a aposta num discurso de campanha monotemático e repetitivo e o pouco espaço deixado para o PAN continuar a ser disruptivo, mantendo, assim o eleitorado jovem que acabou por fugir para outros quadrantes partidários".
Estas saídas acontecem após a reunião da Comissão Política Nacional que decorreu no sábado, para análise do resultado nas legislativas, nas quais o PAN desceu de quatro deputados eleitos para um.
Os dirigentes demissionários criticam a opção saída da reunião de auscultar as bases em relação à estratégia de futuro, considerando que se trata de um "livre trânsito para auscultar de forma interrogatória as assembleias de filiados", e defendem que "não é suficientemente democrática e politicamente consequente, pois apenas o congresso, órgão máximo e soberano do partido, oferece condições para que da discussão se retire todas as consequências políticas, inclusive sobre a continuidade da liderança do partido".
E acusam a direção, que "necessita de ser reavaliada", de, ao fugir "ao escrutínio em congresso", não se pautar "por uma metodologia verdadeiramente transparente nem democrática".
"Só o órgão máximo do PAN tem o poder total para reerguer o partido e revalidar uma direção e a sua porta-voz, após a maior derrota eleitoral de sempre. Para os dirigentes demissionários, independentemente da ponderação subjetiva de cada um dos fatores aqui elencados, sem um congresso, o partido estará sempre numa fragilidade contínua, algo insustentável que irá condenar o PAN a uma erosão que querem a todo o custo travar", apontam.