Por um Projecto Aspiracional
Nas eleições antecipadas do passado domingo, o Partido Socialista voltou a vencer no país e conquistou uma histórica maioria absoluta que permite agora iniciar um período de governação com condições reforçadas de estabilidade.
Na Madeira, o PS foi capaz de manter três deputados e, com isso, alcançar o objectivo principal que definiu, o que merece o reconhecimento de todos os socialistas. Tenho para mim que dois motivos o justificam: a valorização do trabalho desenvolvido nos últimos anos na Assembleia da República; e a influência do quadro político nacional, como demonstram os resultados estratosféricos, 12 mil votos no total, registados por Chega e Iniciativa Liberal na Região.
Nenhuma destas realidades deve impedir, contudo, o PS Madeira de olhar com cuidado para os resultados. Infelizmente, na Madeira piorámos os resultados de 2019, em número absoluto e percentagem de votos, e voltámos a perder, enquanto no país melhorámos resultados e ganhámos em todos os distritos e nos Açores. Dir-me-ão que não é novidade, mas a isso respondo que se em Leiria fomos capazes de vencer pela primeira vez, na Madeira talvez também tivéssemos sido se em vez de darmos azo a inovações injustificadas tivéssemos mantido estabilidade no projecto e acabado com o fogo amigo aos nossos autarcas do Funchal. É essa diferença de ambição, de quem em 2019 ficou a menos de 4% do PSD, que exige uma mudança de perspectiva, para que onde perdemos votos sejamos capazes de voltar a ganhar. Onde é necessário corrigir, não se deve optar por maquilhar e disfarçar.
Os resultados de domingo tiveram, porém, outro mérito: o de revelar a instabilidade governativa no seio da coligação PSD/CDS e as fragilidades de um projecto político de mero interesse circunstancial, sem qualquer rumo estrutural. Depois das três eleições de 2019, houve no PS Madeira quem tenha insistido em falar no início de um novo ciclo, em vez de relevar a importância do trabalho feito e dos resultados que abriram caminho à histórica perda da maioria absoluta e a uma possível viragem nas eleições seguintes. Agora, parece que tudo ficou mais claro na cabeça de quem, saindo com um partido mais pequeno, transmite a mensagem de que deixa tudo na mesma, apesar dos resultados das últimas duas eleições serem piores do que as anteriores.
Neste cenário, o PS Madeira prepara agora as eleições internas e o congresso que darão lugar a uma nova liderança e quem se propõe a liderar fá-lo com uma base de entendimento transversal. Com condições ímpares para presidir o partido e com o desafio clarificado pelo próprio de ser candidato a Presidente do Governo Regional em 2023, o Sérgio Gonçalves terá de ser o líder de todos aqueles que pretendem mudar definitivamente a Região.
E no caminho para as regionais de 2023, o PS tem muito a fazer: reflectir sobre os motivos que continuam a impedir-nos de somar verdadeiros sucessos eleitorais; a mobilização de um partido que não tem dimensão suficiente para ter dispensáveis, onde não chega parecer que se somam partes e abraçar discursos saloios de união promovidos por quem afinal cria cisões; o rejuvenescimento dos seus quadros e figuras; o crescimento e a reabertura à sociedade civil; a clarificação programática, dentro do quadro ideológico e do património histórico do PS; a redefinição de prioridades no combate político; a simplificação da mensagem; a redefinição dos meios; e a aproximação local e popular.
A partir da Assembleia e do Governo da República, os madeirenses esperam que sejamos capazes de responder a desafios que merecem rápida intervenção de todos os protagonistas. Precisamos de avançar no fundamental, nomeadamente: estabelecermos uma nova ambição regional autonomista, vertida numa futura revisão constitucional e do estatuto político-administrativo; um quadro de participação e representação melhorado, através da revisão das leis eleitorais; e um quadro financeiro clarificado, através da revisão da lei das finanças regionais e da resolução de dossiers pendentes, como a mobilidade.
No plano nacional, a ambição do PS deverá ser não apenas de recuperação, mas de transformação do país num território capaz de fixar as novas gerações, respondendo a prioridades fundamentais como os direitos à Educação, à Saúde, à Habitação, ao Emprego Digno, à Cultura, à Participação e a um Ambiente Saudável, com serviços públicos universais, gratuitos e de qualidade.
Se o PS for capaz de abraçar estes desafios com determinação, chegaremos certamente a 2023 em melhores condições do que as actuais para nos apresentamos ao eleitorado com um projecto Autonomista pleno, Alternativo à Governação e Aspiracional para o Futuro da Região.
Um projecto Reformista e Progressista, mobilizador da sociedade e promotor do sobressalto cívico que nos faltou em 2021. É nele que certamente todos os socialistas estarão concentrados e empenhados. Vamos a isto!