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A sublime vertigem das sondagens

No passado dia 30 o país dirigiu-se às urnas com um “empate técnico” entre PS e PSD, ditado por uma enorme maioria de sondagens. A verdade é que o país anoiteceu nesse dia com uma maioria absoluta do PS. O que falhou? Como poderemos ter ficado tão longe entre a previsão e a realidade?

É bom lembrar que as sondagens estimavam que ambos os partidos disputassem os votos na casa dos 30% e que nenhuma sondagem estimava o PSD abaixo dos 30% e o PS acima dos 40% (a não ser nos extremos). Mas a verdade é que o PSD não chegou aos 30% e o PS ultrapassou os 40%.

Aqui chegados, tenhamos em conta dois eixos de análise: as sondagens condicionam o resultado das eleições e, a ciência que as fabrica, tem de se confrontar com novas realidades que como se viu ainda não domina.

Sobre o condicionamento das sondagens sobre o comportamento dos eleitores ele é evidente. Sempre o foi e, de algum modo, isso voltou a acontecer. A luta partidária também se faz nas sondagens, onde todos querem ficar bem mas quase todos desvalorizam publicamente. E as sondagens são de tal forma importante para os partidos que eles próprios as fazem regularmente. Se é líquida a importância das sondagens, mas importante foi o que aconteceu no passado domingo. A credibilidade da generalidade das sondagens ficou afetada? Creio que desta vez, bastante.

Tratando-se de uma ciência com base em métricas e amostragens, uma sondagem é uma “fotografia” retirada no momento. Vale para aquele momento e uns dias depois o cenário pode já não ser o mesmo. Mesmo sabendo-se que nestas eleições muito estava em jogo – basta ver a recomposição de esquerda e direita no parlamento – as forma como as sondagens são elaboradas, inclusive no tratamento das “extrapolações”, deve ser repensado.

Convém recordar que estamos a falar de empresas com vasta experiência, de instituições académicas e de vários “media” que durante anos se têm dedicado a este tema. Os centros de interesse eleitoral, o perfil do votante, os valores da abstenção (outro problema dos cadernos eleitorais) e as tendências políticas estão a mudar. E desta vez, quase tudo isso escapou às sondagens de referência.

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