À deriva
A ânsia de todos vacinar gera contestação ao governo madeirense
Boa noite!
Com a pandemia ainda em curso o governo regional decidiu aliviar restrições, ordenar novas orientações e semear a confusão, quando apenas desejava forçar a vacinação.
Ninguém tem dúvidas que a coação, para além de ilegal e reprovável, é deliberada. Ainda hoje, Pedro Ramos, quando confrontado com as críticas de pais que viram os seus filhos impedidos de frequentar actividades e com os condicionamentos diversos que fizeram adiar alguns jogos foi peremptório: “Este é um assunto que já poderia estar solucionado se toda a gente já tivesse sido vacinada”. Mais palavras para quê?
Ninguém lhe vai severamente à mão, como se constata no último resultado eleitoral, mas com leviana obsessão, o governo regional presta um péssimo serviço aos madeirenses e consegue um feito notável: que o esforçado trabalho de meses no combate à covid entrasse de novo em descrédito.
Há muita forma de passar a ideia de normalidade desejável. Basta ser aplicado e não introduzir desleixo juntos dos que já estão vacinados, insistindo por exemplo que importa usar máscara, manter distanciamentos e desinfectar as mãos. Basta ser coerente no capítulo das autorizações tratando todos por igual. Basta não desencadear perseguição aos que rejeitaram ser vacinados. Basta não discriminar.
O executivo que pressiona os incautos e que em apenas três dias consegue anunciar, pôr em prática, comentar confundindo e emendar regras impraticáveis, sujeita-se à contestação, à manchete que escandaliza e mostra um atentado aos direitos consagrados e à pronta reacção de diversos partidos que denunciaram a prepotência do poder.
As mais recentes contradições do governo regional na gestão pandemia comprovam que o executivo desperdiça de forma deliberada oportunidades para aprender a comunicar de forma assertiva, para envolver toda a comunidade num processo de superação das diversas crises e para afirmar a sua credibilidade. Já lá vão dois anos de combate meritório por parte de profissionais de saúde inexcedíveis, mas também de medidas decididas sem ensaio atempado, sem enquadramento científico e sem ponderação.
Envergonha-nos que o governo queira que a Região seja a primeira da Europa e do Mundo no disparate e no delírio; que tenha decidido trilhar o caminho do experimentalismo doentio; que ache que é decretando medidas que não são exequíveis, para emendá-las horas depois, que se agiganta.
O executivo que faz passar a mensagem que está tudo controlado é o mesmo que acaba com os boletins diários para que se saiba menos do que é habitual. Agradecemos-lhe pois, como não vamos baixar a guarda informativa, com engenho e sorte ainda conseguimos uns exclusivos. Tudo se sabe, por via da DGS ou de outras boas vontades.
Por tudo isto e mais algumas notícias a publicar em breve, esperemos que o debate mensal no parlamento madeirense, agendado para a próxima semana, seja uma oportunidade de sova democrática em todos os tiques que infectam a cidadania, que descredibilizam os técnicos e que expõem a incompetência dos decisores.