Taxonomia climática
Que seja uma burocracia útil, entendível e concretizável e não mais um esquema de autorregulação
As preocupações ambientais, em particular as mais próximas das questões associadas às alterações climáticas, geram tanto de consenso como de dificuldades de percepção e consequente ação efectiva. No geral, existe um entendimento comum e muito consensual sobre a necessidade de assegurar a dimensão ambiental, a par das vertentes sociais e económicas, seja qual for o modelo de desenvolvimento. As diferenças resumem-se, basicamente, a contextos pontuais, geográficos, políticos, económicos a que acrescem, para situações similares, variantes na intensidade e peso que é dedicada a cada uma das dimensões do desenvolvimento.
Já sobre a acção, nos domínios da eficiência e coerência do que se vai fazendo, o quadro vigente é muito mais diverso, contemplando exemplos extremos de grande ou de nenhuma responsabilidade, de compromisso ou negligência, com militâncias efectivas ou mero greenwashing.
Não há quem não se considere amigo, promotor da causa ambiental, responsável até, como se sustentável não bastasse. Plantar árvores é a mais recente forma de redenção ambientalista atestando um firme compromisso com a natureza e, sobretudo, com as alterações climáticas. Um verdadeiro perdão de dívida personificado num cálculo linear mensurável em toneladas de dióxido de carbono numa lógica caricata que acredita que a neutralidade contabilizada na folha de cálculo é o santo graal que consagra a salvação do planeta e resolve a questão da responsabilidade ambiental.
Em boa hora a burocrática Comissão Europeia se propõe produzir um acto delegado complementar relativo à taxomomia climática. Apesar da aparente complicação e dificuldade de percepção deste tipo de processos, a verdade é que se trata de uma contribuição muito relevante para a clarificação da situação actual que permite meter no mesmo saco ações efectivas em favor do combate às causas e efeitos das alterações climáticas e outras que, à boleia do momento, resultam contrárias ao que se pretende, com benefícios indevidos e inaceitáveis para quem as pratica.
O objectivo da taxonomia climática da União Europeia é ajudar os investidores a identificar actividades económicas em linha com as metas ambientais e os compromissos climáticos cujo cumprimento está ainda muito longe. Essa distância será mais facilmente encurtada se houver mecanismos claros que permitam distinguir quais as ações que se transformam em passos concretos no processo de transição para um modelo de desenvolvimento socialmente justo e ambientalmente equilibrado, rejeitando oportunismos embrulhados no moderno manto da sustentabilidade mas que se revelam mais do mesmo. Que seja uma burocracia útil, entendível e concretizável e não mais um esquema de autorregulação e protecção de um sistema que persiste, contrariando a formulação ambiciosa das políticas europeias de sustentabilidade. Igualmente importante seria garantir um alcance abrangente, participado e mobilizador envolvendo toda a gente, do produtor ao utilizador-consumidor, garantindo um alinhamento consciente e coerente, transparente e verificável, dos resultados que, afinal, é o interesse comum.