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Congressistas criticam divergência entre agências sobre risco do 5G para aviação

Foto Patrick T. FALLON/AFP
Foto Patrick T. FALLON/AFP

Congressistas dos EUA questionaram na quinta-feira em voz alta como é que divergências entre agências federais sobre o desenvolvimento de serviços de comunicação de alta velocidade sem fios (5G) atingiram proporções de crise em janeiro.

Porém, obtiveram poucas respostas sobre a disputa que levantou preocupações sobre interferências com equipamentos-chave em alguns aviões.

Alguns voos têm sido cancelados desde que a Verizon e a AT&T ligaram as suas redes no mês passado, mas as previsões de cancelamentos generalizados de voos acabaram por se revelar erradas.

A agência federal da aviação (FAA, na sigla em Inglês) autorizou 90% dos aviões dos EUA a aterrarem em más condições de visibilidade em aeroportos com torres da 5G nas proximidades.

Estas aprovações têm sido concedidas mês a mês, avião por avião, baseadas no modelo do radio altímetro que usam para medir a sua altura em relação ao chão.

Alguns aviões com desempenho fraco continuam restritos e o nivelamento de todos os aparelhos vai demorar provavelmente pelo menos um ano, admitiu Stephen Dickson, administrador da FAA, durante uma audição na subcomissão da Câmara dos Representantes para a Aviação.

Os presidentes executivos da American Airlines e da United Airlines disseram que não esperam muito mais perturbações. Porém, mais de metade dos aviões operados por transportadoras aéreas regionais permanecem inoperacionais durante o mau tempo, disse Faye Malarkey Black, presidente do grupo dos pequenos transportadores, alguns dos quais operam aviões para a American Eagle, United Express e Delta Connection.

Black disse que continuam a existir cancelamentos e que mais de um quarto dos voos nos três principais aeroportos da área de Nova Iorque são feitos por pequenos aviões que não podem aterrar durante o mau tempo devido às restrições relacionadas com o 5G.

A Verizon e a AT&T aceitaram dois adiamentos antes de lançarem muitos dos seus novos serviços 5G em 19 de janeiro, exceto nas proximidades dos aeroportos, onde aceitaram não pôr a funcionar as torres.

Dezenas de voos foram cancelados devido às preocupações com o início de funcionamento da 5G, mas os cancelamentos generalizados foram evitados.

O atual e temporário remédio existe desde que a Casa Branca agiu para superar a falta de cooperação entre a FAA e a Comissão Federal de Comunicações (FCC, na sigla em Inglês), que ameaçava criar disrupções massivas para aviões e passageiros.

O congressista republicano John Katko, eleito pelo Estado de Nova Iorque, disse a Dickson que as diretivas de última hora da FAA sobre as operações nas proximidades das torres da 5G indicam que "realmente não havia plano nem compreensão da gravidade da situação antes desta ocorrer".

Dickson disse que a FAA não poderia autorizar voos com baixa visibilidade próximo dos novos sinais até que tenha informação das empresas de telecomunicações sobre a localização, altura e potência das suas torres para a 5G.

O chefe da FAA adiantou que os reguladores e os técnicos das duas agências estão agora a trabalhar conjuntamente. Na semana passada, a FAA adiantou que nova informação das empresas tinha permitido a ativação de mais torres nas proximidades dos aeroportos.

O presidente da comissão dos Transportes da Câmara dos Representantes, Peter DeFazio, um democrata do Oregon, atribuiu o confronto à FCC, que aprovou planos da Verizon e AT&T para lançar serviços da 5G mais rápidos e fiáveis com recurso a uma parte do espetro de rádio que está perto do usado pelos altímetros dos aviões, que são críticos para aterragem com má visibilidade.

DeFazio afirmou que ele e agentes da aviação têm expressado preocupações sobre possíveis interferências desde há anos, mas que a FCC ignorou-as e leiloou o espetro para a 5G sem garantir que houvesse interferência com os aviões.

"Ter uma chamada caída é muito menos grave do que ter um avião caído", ilustrou.

A presidente da FCC, Jessica Rosenworcel, foi convidada a testemunhar, mas invocou um conflito para declinar o convite, segundo um porta-voz, que não esclareceu do que se tratava. Em todo o caso, acrescentou, Rosenworcel, na quarta-feira, falou separadamente com DeFazio e o presidente da subcomissão da Aviação, Rick Larsen, um democrata do Estado do Washington.

A FCC e as empresas de telecomunicações argumentaram que h+a 40 países cm as tores instaladas perto dos aeroportos e que não têm reportado radio interferências com os aviões. Mas os transportadores aéreos contrapõem que esses países têm sinais 5G mais fracos ou impõem outras restrições ao serviço para prevenir interferências, o que a indústria das telecomunicações contesta.

Meredith Baker, presidente da Associação da Indústria das Telecomunicações Celulares, disse que um estudo de grupos de aviação, de 2020, que tinha causado sérias preocupações, estava enviesado e distorcido focado nos piores cenários.

DeFazio e Larsen contrapuseram que as exigências de segurança até requerem a consideração de eventos implausíveis.

"É para isso que planeamos -- para os piores cenários", realçou DeFazio.