Mulheres são mais pobres do que os homens na África do Sul
As mulheres são mais pobres do que os homens na África do Sul, com um índice de pobreza de 58,6% contra 54,9%, segundo dados da autoridade estatística nacional (Stats SA), que ontem iniciou um recenseamento geral da população.
Segundo a entidade sul-africana, o Censos deste ano, que deverá durar um mês, assinalará a quarta contagem (1996, 2001 e 2011) populacional que o Governo do Congresso Nacional Africano (ANC) realiza desde que assumiu o poder nas primeiras eleições democráticas e multirraciais em 1994, estimando em 60,14 milhões o número de habitantes no país.
Na África do Sul pós-apartheid, o combate ao legado da pobreza e do subdesenvolvimento foi uma das prioridades políticas do ANC no Plano de Reconstrução e Desenvolvimento (PDR) em 1994, reiterado depois no Plano Nacional de Desenvolvimento (PND) em 2011.
Durante mais de duas décadas, a África do Sul procurou combater a pobreza e a desigualdade social através de políticas fiscais de apoio a medidas de redistribuição entre o eleitorado do ANC de maioria negra.
"Os níveis de pobreza aumentaram entre 2011 e 2015. Esta experiência é um lembrete da realidade que os desafios socioeconómicos do país são profundos, estruturais e de longo prazo", considerou a ministra na presidência Nkosazana Dlamini-Zuma num estudo divulgado em março de 2018.
"Os dados da despesa de consumo indicam que a África do Sul é um dos países mais desiguais do mundo, e que a desigualdade aumentou desde o fim do [regime] 'apartheid' em 1994", apontou o relatório.
Todavia, no último Censos, em 2011, os "excluídos" passaram "despercebidos" aos olhos das autoridades sul-africanas, pese embora também o crescimento exponencial da população residente no país, que tem sido visivelmente gritante nas grandes cidades.
O número de habitantes no país aumentou de 40,6 milhões em 1996 para 51,7 milhões em 2011 e 55,6 milhões em 2016, segundo o Governo sul-africano.
Numa estimativa divulgada em 2016, o Stats Sa estimou que cerca de 13,6% da população sul-africana vive em "condições informais".
"Eles [o ANC] não poderão continuar a mentir, somos muitos", considerou Masechaba Thebe, de 33 anos, que, tal como dezenas de milhares de sul-africanos e imigrantes africanos, vive nas ruas da capital económica Joanesburgo, que hoje alberga mais de 5 milhões de pessoas.
A Egoli, a terra do ouro, como esta cidade industrial mineira é também conhecida localmente, continuam a chegar milhares de imigrantes estrangeiros, nomeadamente de Moçambique, Nigéria, Somália e Paquistão, por acreditarem que na África do Sul "há dinheiro".
Mas tudo o que o moçambicano Tony Lissaga, de 48 anos, consegue tirar informalmente como mecânico não chega a 40 euros semanais, o que nem sequer lhe dá para o aluguer de um quarto.
O recenseamento geral da população que hoje teve início na África do Sul, vai incluir os estrangeiros, os sem-abrigo e os alojamentos comunitários informais, segundo a autoridade estatística nacional.
Este ano, o Censos será a primeira contagem digital da população residente na África do Sul, permitindo que as pessoas participem sem a ajuda de um pesquisador de campo do censo, adiantou.