Milhares de manifestantes em Cartum voltam a ser dispersados com gás lacrimogéneo
Milhares de sudaneses voltaram hoje a manifestar-se em Cartum para exigir justiça para dezenas de mortos vítimas da repressão das autoridades de segurança sudanesas desde o golpe militar de outubro e foram novamente dispersados com gás lacrimogéneo.
Em Cartum Norte, um subúrbio na zona nordeste da capital sudanesa, 2.500 manifestantes reuniram-se para exigir justiça para as 79 pessoas mortas desde o golpe de 25 de outubro -- grande parte delas baleadas na cabeça ou no peito, de acordo com um sindicato de médicos pró-democracia.
As forças de segurança voltaram a disparar granadas de gás lacrimogéneo no final do dia, numa tentativa de dispersar os manifestantes, segundo foi testemunhado pela agência France-Presse.
Ao mesmo tempo, mais de 5.000 pessoas convergiram para a casa da família de Mohammed Youssef, um sudanês de 27 anos, baleado no peito durante os protestos anti-golpe no passado domingo em Omdourman, o outro subúrbio de Cartum, na margem norte do Nilo, enquanto outro grupo de manifestantes ergueu barricadas de pedra no centro da capital.
Não distante deste último local, o enviado das Nações Unidas para o Sudão, Volker Perthes, recebeu o general Abdel-Fattah al-Burhan, líder golpe de Estado militar e no poder no Sudão, a quem instou "a pôr termo à violência ligada às manifestações", segundo autoridades não identificadas pela agência noticiosa.
A organização não-governamental (ONG) de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch (HRW) acusou a polícia de "disparar munições reais contra manifestantes desarmados", citando testemunhas vítimas de violência em 17 de janeiro, o segundo dia mais mortífero desde o golpe, em que, pelo menos, oito pessoas foram mortas.
Pelo menos seis das testemunhas ouvidas pela HRW dizem ter visto a polícia "disparar munições reais" e a ONG garante ter identificado agentes da polícia armados com espingardas metralhadora Kalashnikov em vídeos.
As autoridades militares, que afirmam regularmente proibir os seus homens de abrir fogo, admitiram recentemente ter "confiscado Kalashnikovs" a alguns efetivos de segurança, depois de os terem identificado em vídeos que circulam nas redes sociais.
Washington congelou 700 milhões de dólares de ajuda ao país e o Banco Mundial congelou todos os seus pagamentos ao Sudão na sequência do golpe de outubro, mas a HRW considera que "são necessárias medidas concretas para parar a repressão".
A secretária de Estado Adjunta dos Estados Unidos, Molly Phee, ameaçou recentemente "fazer com que a liderança militar pague um custo ainda maior, se a violência continuar".
"Estamos a analisar todos os instrumentos (...) para reduzir os fundos a disponibilizar ao regime militar sudanês e para isolar as empresas geridas pelos militares", afirmou Molly Phee.