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E se deixássemos de andar sempre a discutir as mesmas coisas?

As pessoas estão cansadas desta política de ódios. É quase uma ideologia do ódio

A Região e a República têm, com o desfecho destas eleições, uma oportunidade para começar um novo relacionamento. O povo português deu uma maioria absoluta ao PS e, aqui na Região, ao contrário do que pensava o PSD, houve uma distribuição equitativa dos deputados entre o PS e aquele partido. Há leituras a fazer. O PSD e CDS concorreram em coligação, o cabeça de lista acabou por ser Miguel Albuquerque, que apareceu nos cartazes, não deixando sequer falar o Sérgio Marques, e mesmo assim isso não chegou para eleger mais nenhum deputado. Este resultado demonstra que os madeirenses querem outra postura que não aquela que tem sido seguida pelo Governo Regional. Querem diálogo, respeito institucional e cooperação entre os governos.

Estão cansados desta guerrilha permanente contra Lisboa. Sabem que a Região não pode avançar se andarmos, como andamos há anos, sempre a discutir as mesmas coisas. Sabem que a Autonomia paralisou numa narrativa destrutiva armadilhada pelo PSD, que não deixa que se criem condições para o diálogo. Sabem que esgotamo-nos num contencioso que não passa de um embuste e digladiamo-nos de costas voltadas para as soluções. Sabem que a agressividade inusitada, de quem se acha com o rei na barriga, é o tijolo utilizado para a construção de muros. Sabem que esse primarismo político de acusar os do continente por tudo e por nada, fomenta um xenofobismo desnecessário com aqueles que não sendo de cá, aqui decidiram fazer a sua vida por amarem esta terra. O que não deixa de ser estranho numa Região que “vende” a sua hospitalidade como valor turístico.

As pessoas estão cansadas desta política de ódios. É quase uma ideologia do ódio. Há quem na política só se alimente do ódio. Se utilizassem essa energia para construir pontes e apresentar propostas, já teríamos muitos dos problemas resolvidos. Uma boa atitude gera sempre uma boa atitude, e devia ter-se o sentido de abrir sempre uma porta.

Podia começar-se por mudar o discurso de dizer que somos melhores do que os outros, afirmando que temos de ser melhores com os outros. E podíamos ser melhores se o governo PSD/CDS envolvesse todos madeirenses e porto-santenses, não numa luta contra a República, mas contra os problemas que nos afligem. Problemas reais. É claro que para isso acontecer era necessário haver um projeto para a Região, um desígnio sob o qual todos nós nos empenhássemos. Mas há falta de uma direção. Por isso apontam sempre para Lisboa. Já pensaram que apesar dos milhões de euros que ao longo dos anos vieram da Europa, que foram gastos e mesmo assim não chegaram, pois ainda nos endividamos, não conseguimos evitar que 84 mil madeirenses estejam em risco de pobreza? Já pensaram que nunca entraremos num novo ciclo económico com tanta gente a viver tão mal?

Parece que nada disto interessa e por isso querem distrair-nos com o António Costa, mas não é ele que governa a Região, e não é ele o culpado por estarmos na cauda do país nas questões da pobreza, da desigualdade social e do poder de compra.

Deixe-se de utilizar a Autonomia e as pessoas com fins de instrumentalização partidária, e zele-se pelos verdadeiros interesses dos madeirenses e dos porto-santenses. Chegou o momento de virar a página na relação entre o Governo Regional e o Governo da República. Entendo que é a altura de afirmar mais do que nunca a nossa matriz autonómica. Como Região Autónoma podemos ser mais do que somos, se solucionarmos problemas nunca resolvidos. Como já muitas vezes defendi, a Autonomia exerce-se através de um relacionamento institucional assente na razão, na negociação e no compromisso. Só assim é possível a política como solução e não como problema para os cidadãos.