Amnistia Internacional denuncia uso de bombas de fragmentação e exige investigação
A organização humanitária Amnistia Internacional denunciou hoje o uso no conflito na Ucrânia de bombas de fragmentação contra civis, incluindo crianças, defendendo que o caso deve ser investigado como "crime de guerra".
Segundo a organização não-governamental (ONG), que tem sede em Londres, uma creche em Okhtyrka, no nordeste da Ucrânia, onde estavam refugiados civis, foi atingida na manhã de sexta-feira por esse tipo de armas, proibidas desde 2010 por uma convenção internacional, que nem Moscovo nem Kiev assinaram.
Três civis, incluindo uma criança, foram mortos e outra criança ficou ferida, segundo avançou a Amnistia Internacional num comunicado divulgado no domingo.
"O ataque parece ter sido realizado por forças russas, que operavam nas proximidades e estão acostumadas a usar armas com munições de fragmentação em áreas povoadas", referiu a ONG, acrescentando ter imagens de vídeo feitas por 'drones' (aparelhos aéreos não tripulados) no local, que mostram este tipo de arma a ser usado contra o edifício da creche e na área circundante.
A Amnistia Internacional adiantou ainda ter obtido 65 fotografias e vídeos adicionais a partir de uma fonte local.
"Não há justificação para lançar munições de fragmentação em áreas povoadas, muito menos perto de uma escola. Este ataque tem todas as características do uso indiscriminado dessa arma pela Rússia, que é proibida a nível internacional, e mostra um flagrante desrespeito pela vida dos civis", sublinhou a secretária-geral da Amnistia Internacional, Agnès Callamard.
A resposta perante esta situação, segundo defendeu a representante, é simples: "Deve haver uma investigação do caso enquanto crime de guerra".
As bombas de fragmentação são armas largadas do ar que espalham dezenas, ou mesmo centenas, de sub-bombas numa área extensa equivalente, sendo que nem todas explodem.
As que não são detonadas transformam-se em minas antipessoais que, ao menor contacto - mesmo muito tempo depois do conflito -, podem matar ou mutilar quem estiver perto.
A organização Human Rights Watch (HRW) e o site de investigação Bellingcat também afirmam ter reunido provas do uso de armas de munições de fragmentação em áreas civis da Ucrânia.
De acordo com a HRW, um dos ataques com estas armas aconteceu nas imediações de um hospital, em Vougledar, no leste da Ucrânia, a 24 de fevereiro.
O ataque matou quatro civis e feriu 10, danificando o hospital e uma ambulância.
A Rússia lançou na quinta-feira de madrugada uma ofensiva militar na Ucrânia, com forças terrestres e bombardeamento de alvos em várias cidades.
O Presidente russo, Vladimir Putin, disse que a "operação militar especial" na Ucrânia visa desmilitarizar o país vizinho e que era a única maneira de a Rússia se defender, precisando o Kremlin que a ofensiva durará o tempo necessário.
O ataque foi condenado pela generalidade da comunidade internacional e a União Europeia e os Estados Unidos, entre outros, responderam com o envio de armas e munições para a Ucrânia e o reforço de sanções para isolar ainda mais Moscovo.