Moscovo recusa revelar posições que leva às negociações com Kiev
A Rússia recusou hoje revelar a posição que levará às negociações com a Ucrânia sobre a guerra que iniciou no país vizinho, justificando que "devem ser conduzidas em silêncio".
"Não vou anunciar as posições que temos. As negociações devem ser conduzidas em silêncio", disse o porta-voz do Kremlin (Presidência), Dmitri Peskov, no seu encontro diário com a imprensa, citado pela agência francesa AFP.
"Deixem os negociadores sentarem-se", acrescentou.
As conversações entre as duas partes realizam-se hoje, num local não especificado próximo da fronteira da Ucrânia com a Bielorrússia, um país aliado de Moscovo.
A Presidência ucraniana disse hoje que vai exigir um cessar-fogo imediato e a retirada das tropas russas da Ucrânia.
A delegação de Kiev inclui o ministro da Defesa, Oleksiy Reznikov, o conselheiro presidencial Mikhail Podolyak, o dirigente do partido Servo do Povo David Arakhamia, e o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros, Nikolay Tochitsky, entre outros, segundo a agência de notícias ucraniana Urkinform.
A delegação russa é chefiada pelo conselheiro presidencial Vladimir Medinsky e integra funcionários dos Ministérios dos Negócios Estrangeiros e da Defesa, segundo a agência estatal TASS.
Medinsky disse que a Rússia está disponível para um acordo que seja do interesse das duas partes.
A Presidência da Ucrânia anunciou no domingo que concordou em participar nas conversações após mediação do Presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko.
A Presidência ucraniana disse que Lukashenko prometeu que "todos os aviões, helicópteros e mísseis estacionados em território bielorrusso permanecerão no solo durante a viagem, as conversações e o regresso da delegação ucraniana".
As conversações realizam-se no quinto dia de combates na Ucrânia, que já provocaram centenas de mortos e centenas de milhares de refugiados.
No encontro com os jornalistas, o porta-voz do Kremlin negou que os militares russos tenham visado áreas civis, apesar das abundantes provas de que edifícios residenciais, escolas e hospitais foram atingidos desde que começou a invasão, na madrugada de quinta-feira.
Dmitri Peskov alegou que as baixas civis resultaram de membros de grupos nacionalistas ucranianos de direita que utilizaram civis como escudos e colocaram equipamento militar em áreas povoadas.
As alegações de Peskov não puderam ser confirmadas independentemente e contradizem as declarações das autoridades ucranianas, que acusaram as tropas russas de ataques contra alvos civis.
Peskov disse também que Vladimir Putin está a trabalhar na resposta económica às pesadas sanções ocidentais impostas à Rússia após a invasão da Ucrânia.
"O Presidente está no Kremlin, está a lidar com a economia", disse Peskov.
"As sanções são pesadas, são problemáticas (...), mas a Rússia tem todo o potencial para compensar os danos", acrescentou.
A União Europeia (UE) e diversos países impuseram sanções económicas duras contra interesses russos, incluindo a banca e a aviação, além de visarem dirigentes como o próprio Presidente Vladimir Putin e o seu chefe da diplomacia, Sergei Lavrov.
A invasão foi ordenada por Putin, após semanas de elevada tensão devido à concentração de dezenas de milhares de tropas russas na fronteira com o país vizinho.