Crónicas

Україна!

Em pleno século XXI estalou a guerra novamente na Europa e o que temos assistido não é infelizmente surpresa para ninguém. E é isso, na verdade o que mais revolta o comum dos mortais, o reflexo de um continente podre e bafiento, carregado de preconceitos ironicamente politicamente corretos e de uma sociedade egoísta e hipócrita que está habituada a comentar tudo e mais um par de botas no conforto do seu sofá mas que pouco faz para transformar as suas palavras em atos concretos. Sim, é altamente improvável que a situação se arraste para uma guerra global, afinal de contas este é um assunto historicamente relevante para a Rússia mas não tanto assim para o nosso continente e para os Estados Unidos do ponto de vista político. A palavra de ordem é “condeno veementemente”, floreados e contorcionismos que não chegam para assustar tanto quanto um tiro de pólvora seca. E assim acham os nossos governantes ( e os senhores do mundo ) que fica feita a nossa parte, que podemos lavar as mãos como Pilatos e nada a partir daí nos poderá ser acicatado.

Embora tarde para evitar o banho de sangue, não deixará a história de julgar aqueles que hoje têm lugar marcado no palco principal no domínio da política externa e da geoestratégia global, por muito que alguns tentem como sempre endossar o seu revisionismo histórico para tentar justificar o injustificável. Mas vamos por partes. A guerra nunca é nem nunca será solução para nada e às minhas palavras de hoje não deve em algum momento ser emprestada qualquer intencionalidade de assumir razões de resposta militar robusta ao ataque que Putin vai infligindo à Ucrânia. As minhas dúvidas vão no sentido de perceber se de facto temos vindo a assumir posições corretas em todo este drama. Que o ditador russo é capaz de tudo já todos sabíamos e também sabíamos da sua obsessão por deixar uma marca no seu currículo que fosse no sentido de recuperar parte do que compunha a antiga União Soviética. Só estava à espera do momento certo e de um conjunto de desculpas esfarrapadas para concretizar os seus intentos. E o momento certo era este, porque quando olhamos para o Ocidente moderno só encontramos líderes fracos, que sucumbem perante projectos de intenções, que se aprisionaram a uma corrente minoritária que vai desenvolvendo teorias de pensamento de auto flagelação como se nós fossemos os maus da fita e tivéssemos que carregar o peso do passado.

Pergunto-me eu se a estratégia certa para lidar com um personagem destes é dizer, nós NATO, repudiamos qualquer tentativa de invasão da Ucrânia mas assumimos desde já que em caso desta acontecer não faremos absolutamente nada porque a Ucrânia não faz parte da Aliança Atlântica. Será que esta é a atitude certa para o tentar demover de tais intenções? E não será uma humilhação para a própria NATO, Vladimir Putin ter a ousadia de justificar a ofensiva militar com o facto do país em causa querer fazer parte da NATO e esta responder com um “safem-se porque ainda não fazem parte”? Quanto às tímidas sanções económicas que vão sendo aplicadas à Rússia como tentativa de dissuasão, não deveriam elas ser mais implacáveis? Pelo que é sabido, alguns países demonstraram algumas reservas nas medidas a adoptar, parte delas hilariantes ou não estivéssemos nós a falar de um tema tão sério e profundo. A Itália por exemplo não demonstrou muita vontade em avançar com o embargo à exportação de bens de luxo para além das reticências de vários países em cortar com o acesso ao sistema global de comunicações bancárias e financeiras SWIFT o que estrangularia de forma particularmente impactante a economia russa. Faz lembrar aquela anedota do sujeito que se estava a tentar enforcar com a corda atada aos pés porque no pescoço lhe faltava o ar.

No meio de tudo isto está um país soberano, com as suas fronteiras definidas que vai sendo deixado à sua própria sorte, transformado num dano colateral para um fim a que muito provavelmente será alheio ou pelo menos decisivo. São pessoas que vêem as suas vidas dilaceradas, famílias desfeitas, casas destruídas. E o que fazemos nós mais uma vez? Muito pouco. Chamam por nós, pedem-nos ajuda e nós lamentamos não poder fazer mais.

É bom não esquecer que a comunidade ucraniana é uma das mais populosas em Portugal, pessoas bem integradas, muitas delas que acrescentam valor e fazem parte da nossa sociedade. Mas mesmo que não fossem. Se há algo em que nós portugueses somos verdadeiramente bons é no acolhimento, no saber receber e integrar. Não tenho qualquer dúvida que saberemos fazer a nossa parte enquanto povo e que cá estaremos para o que precisarem. Embora também saiba que neste momento tudo o que possamos fazer saiba a pouco. Muito pouco mesmo.

P.S. Enquanto a Rússia quebra todos os tratados e leis internacionais o Partido Comunista Português vai colocando as culpas no Ocidente mesmo que o regime se assemelhe ( aqui sim! ) muito mais ao fascismo do que propriamente a uma ditadura do proletariado. Mais um sinal de um partido que perdeu o seu rumo e que se perdeu no tempo.

Força Україна!