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Reconhecer os problemas é o caminho para os ultrapassar

Reconhecer um problema é o primeiro passo para o resolver, ainda que, consoante a gravidade das situações, tenhamos de ter a consciência de que há problemas cuja resolução não depende apenas de nós, sendo necessária ter a colaboração e ajuda de outras pessoas, mas, também, a paciência a e resiliência para perceber que nada acontece de repente, sem trabalho, que não há artes mágicas, que não basta um simples estalar de dedos, para que se consiga ultrapassar os obstáculos.

Só assim, sem receios, quer de enfrentar os problemas, quer de perceber que, muitas vezes, sozinhos, não chegamos lá, é que podemos cumprir o que dizia São Francisco de Assis, a propósito de como agir para enfrentar as adversidades: “primeiro há que fazer o que é necessário, depois faz-se o possível, para, finalmente, estarmos a fazer o impossível”.

Nos últimos anos, o Funchal viu crescer o número de pessoas sem-abrigo. Todos os dias havia mais gente a viver na rua, sem, contudo, haver a assunção da gravidade da situação, por parte de todas as entidades com responsabilidade em encontrar as soluções para este problema. Houve, admitamo-lo, laxismo, falta de diálogo, falta de vontade em trabalhar em conjunto, em encontrar sinergias que pudessem providenciar uma resposta e medidas eficazes para debelar o que estava e ainda está a acontecer.

Todavia, como tenho dito e redito sobre esta problemática que afeta a nossa cidade, não estou aqui para olhar para trás, nem para encontrar culpados, mas sim para resolver os problemas e olhar para a frente. Isto é uma “guerra” que quero ganhar em nome da nossa cidade e em nome de todos os funchalenses. E espero, daqui a quatro anos, que o Funchal não esteja no estado em que o encontrámos, sabendo bem que tal só será possível com o esforço de todos, desde a Câmara Municipal, passando pelo Governo Regional, Segurança Social, PSP, associações e IPSS, Juntas de Freguesia, mas, também, de todos os cidadãos que queiram ajudar a combater este flagelo social.

Além do trabalho que, diariamente, estamos a realizar, em articulação com várias entidades, nomeadamente associações e IPSS, para sensibilizar as pessoas sem-abrigo sobre as alternativas existentes que lhes permitem pernoitar em locais apoiados pelas entidades públicas, com segurança, limpeza e alimentação, além ainda da sensibilização que procuramos fazer sobre todos os malefícios do alcoolismo e consumo de drogas, estamos no terreno com um projeto-piloto que queremos expandir, de modo a que consigamos a reinserção social e laboral de quem quer, realmente, abandonar as ruas e voltar a viver em sociedade, com trabalho e alojamento.

Sabemos as dificuldades que este desafio representa. Sabemos que as pessoas que vivem nas ruas têm de ter muita força de vontade e serem bem acompanhadas, para que o regresso à sociedade, a reabilitação e reintegração sejam um sucesso. Sabemos que nalguns casos teremos sucesso, noutros nem tanto. Mas, sobretudo, sabemos que estamos dispostos a correr riscos para alcançar o sucesso.

Já assinámos o protocolo com o Centro Luís de Camões, entidade que vai ficar com a responsabilidade de acompanhar quatro pessoas sem-abrigo, que ficarão instaladas numa moradia recuperada pela Câmara Municipal do Funchal. Este é um projeto que queremos expandir. A CMF está disponível para recuperar pequenos imóveis, de privados que não tenham condições financeiras para o fazer, os quais serão, posteriormente, utilizados, consoante o acordado, na expansão desta iniciativa, que visa, repito, ajudar socialmente a reabilitar quem quer deixar de viver nas ruas da nossa cidade. Estamos, também, a contar com o apoio de privados que queiram ajudar a empregar estas pessoas.

Estamos apenas no início de uma longa caminhada, mas os sinais são já muito positivos, a começar pela vontade de várias pessoas em situação de sem-abrigo que já pediram ajuda, contando, igualmente, com várias empresas e cidadãos que já indicaram toda a disponibilidade para nos ajudar nesta tarefa.

A todos agradeço e com todos conto. Da minha parte e da autarquia do Funchal, podem contar com toda a nossa entrega. Este é um desafio que assumimos como fundamental e em que queremos ter muito sucesso, não por nós, mas porque assim o exige a dignidade da vida humana.