Santos Silva confirma que sanções a Putin estão sobre a mesa em Bruxelas
Os chefes da diplomacia europeia poderão hoje colocar o próprio Presidente russo, Vladimir Putin, na lista de indivíduos alvo de sanções pela agressão militar à Ucrânia, confirmou o ministro Augusto Santos Silva à chegada ao Conselho.
Reunidos pela terceira vez esta semana, os ministros dos Negócios Estrangeiros dos 27 deverão hoje aprovar o segundo pacote de sanções à Rússia, tal como acordado na cimeira extraordinária de chefes de Estado e de Governo celebrada na véspera e concluída de madrugada. Sobre a mesa está uma proposta de congelamento de bens de Putin e do chefe da diplomacia russa, Sergei Lavrov.
"Confirmo que é uma das propostas que vamos discutir, no conjunto de novas sanções que vamos aprovar, seguindo, aliás, as orientações que saíram ontem do Conselho Europeu", declarou o chefe da diplomacia portuguesa à chegada à reunião.
Questionado sobre que sanções específicas podem ser dirigidas a Putin, Santos Silva escusou-se a detalhar, até porque disse não ser seu "estilo dar por adquiridas decisões que ainda não foram tomadas".
"Portanto, confirmo que nós discutiremos várias propostas, entre as quais uma proposta de sancionamento do próprio Presidente Putin. Confirmo que vamos discutir. Não posso confirmar que vamos aprovar, visto que sou apenas um em 27", disse.
Santos Silva acrescentou que, "neste momento, ainda se encontra a decorrer uma formação preparatória da reunião para ir 'afinando' as coisas", pelo que seria "um atrevimento" da sua parte "dar já por adquiridas as decisões que ainda vão ser tomadas". Aconselhou assim os jornalistas a esperar "duas ou três horas de reunião, pelo menos" para conhecer as sanções que vão ser adotadas pelos 27.
O ministro apontou que este segundo pacote de sanções maciças, decidido pelos 27 face à invasão da Ucrânia por forças militares russas, "implica novas personalidades ao mais alto nível a serem adicionadas à lista de sanções, novas entidades bancárias, a interdição da exportação para a Rússia de equipamentos e componente tecnológicos muito importantes para setores como os transportes, a energia ou a aviação, e outras medidas que serão conhecidas quando nós as aprovarmos".
Também à chegada ao Conselho, o Alto Representante da UE para a Política Externa e de Segurança, Josep Borrell, admitiu ser "pessoalmente muito a favor" da inclusão de Putin e Lavrov na lista de sanções, fazendo votos para que "não haja surpresas nem objeções", pois a decisão precisa de ser tomada por unanimidade dos 27.
Augusto Santos Silva adiantou também que o Conselho seguramente renovará "a exigência que a comunidade internacional tem dirigido ao presidente Putin para cessar imediatamente este ato de agressão à Ucrânia e mandar retirar as suas tropas para o seu país".
"A agressão militar à Ucrânia a que nós assistimos, e que continua a desenvolver-se, a intensificar-se e a agravar-se, tem provocado dezenas e dezenas de vítimas inocentes, tem provocado a destruição e é a mais seria ameaça à ordem internacional, e em particular à segurança da Europa, a que nós assistimos desde o fim da II Guerra Mundial", reiterou.
Santos Silva realçou que "esta agressão tem um único responsável, o Presidente Vladimir Putin".
"Portanto, certamente que nós hoje exprimiremos de novo a nossa solidariedade total com a Ucrânia", disse, apontando que, durante a reunião, os 27 terão oportunidade de falar por videoconferência com o seu homólogo ucraniano e renovar a "exigência da cessação imediata desta agressão por parte das autoridades russas".
Confrontado com as críticas do Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, à lentidão da resposta europeia à agressão russa, Santos Silva disse discordar da acusação, mas manifestou-se compreensivo com as palavras do chefe de Estado da Ucrânia, atualmente "cercado".
"Não creio [que a UE esteja a reagir lentamente]. Se há duas características que pontuam a reação europeia é a unidade e é a rapidez. Eu compreendo as palavras do Presidente ucraniano, que está neste momento para todos os efeitos cercado, visto que as tropas russas estão às portas de Kiev, numa guerra que não provocou e de que é apenas vítima, e em condições muito difíceis de condução do seu povo, que está a ser alvo de uma brutal agressão", disse.
A Rússia lançou na quinta-feira de madrugada uma ofensiva militar na Ucrânia, com forças terrestres e bombardeamento de alvos em várias cidades, que já provocaram pelo menos mais de 120 mortos, incluindo civis, e centenas de feridos, em território ucraniano, segundo Kiev. A ONU deu conta de 100.000 deslocados no primeiro dia de combates.
O Presidente russo, Vladimir Putin, disse que a "operação militar especial" na Ucrânia visa "desmilitarizar e desnazificar" o seu vizinho e que era a única maneira de o país se defender, precisando o Kremlin que a ofensiva durará o tempo necessário, dependendo de seus "resultados" e "relevância".
O ataque foi condenado pela generalidade da comunidade internacional e motivou reuniões de emergência de vários governos, incluindo o português, e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), União Europeia (UE) e Conselho de Segurança da ONU, tendo sido aprovadas sanções em massa contra a Rússia.