"Back in the U.S.S.R”.
Mas haverá sempre resistência e quem sinta bem dentro do peito a chama da autodeterminação
Um líder político dos nossos dias, com saudades do passado, do “Yesterday”, e por motivos que só ele sabe, resolveu fazer uma “Revolution”, e ir “Back in the U.S.S.R.”
Começou por um suave “Get Back”, e dizendo “I Want to Hold Your Hand”, lá foi convidando para um “Magical Mystery Tour” cheio de promessas do género “Got to Get You Into My Life!” a sua aliada e vizinha Bielorrússia, que como sabemos não é flôr que se cheire.
Seguidamente tentou a outra vizinha, mais independente e senhora do seu nariz dizendo que “We Can Work It Out” e que a vida daí em diante seria um infindável passeio nuns aprazíveis “Strawberry Fields Forever”.
A vizinha, bem conhecedora do “The Fool on the Hill” ,pensou - “Help!”!
E se pensou, melhor o fez para que tudo não fosse mais do que um inconsequente “Let It Be”, julgando que “With a Little Help from My Friends” conseguiria “Carry That Weight”.
“Dear Prudence”, escreveu ela a uma amiga, ou melhor, a um grupo de amigas, que apesar de recentes, sempre lhe manifestaram o quanto a apreciavam, dizendo-lhes que o que é mais indispensável agora é que vocês “Don’t Let Me Down”!
Mal sabia que a sua desdita ir-se-ia transformar numa “Long and Winding Road”
e que a sua esperança que pudessem “Come Together” não passaria de “Something”
que lhe diriam com os desejos de “All My Loving” e pouco mais.
Ficou com a sensação de “I’m a Loser”!
“Tomorrow Never Knows”, disse ela às amigas, o amanhã é desconhecido.
E “From Me to You”, “What You’re Doing”? indagou sem perceber a indiferença grassante.
“All You Need Is Love” responderam-lhe numa primeira apreciação às solicitações da amiga distante.
“She Came in Through the Bathroom Window”, ela entrou pela porta dos fundos e vocês não se aperceberam. Já está cá dentro e “Not a Second Time” será o que estará destinado à ameaçada nova amiga que terá, mais uma vez de se contentar com um “You’ve Got to Hide Your Love Away”, como o tinha feito durante décadas e décadas de opressão imposta pela vizinha que quer voltar ao passado.
Socorri-me de títulos de canções dos Beatles para ilustrar a gravidade do que se passa no oriente da Europa, que já foi distante e agora está ali mesmo ao virar da esquina.
E é particularmente grave porque esta guerra não se iniciou agora, com esta crise e escalada de trocas de acusações.
Esta guerra iniciou-se com o desmembramento da União Soviética, tendo-se agudizado mais há cerca de oito anos, em 2014 quando os separatistas ucranianos pró russos começaram as reivindicações de auto soberania e quando a Rússia anexou a Crimeia (território ucraniano), com todo o ocidente a assobiar para o lado.
Tal como diz a canção, She came in through the bathroom window, a Rússia comandada pelo Fool on the hill foi entrando pela porta dos fundos e foi tomando conta do que muito bem quis, e agora é só apanhar.
Mas haverá sempre resistência e quem sinta bem dentro do peito a chama da autodeterminação, e porque o orgulho de se sentir nação é mais forte do que o medo da opressão, deixo os últimos versos de uma canção de José Afonso que pode espelhar o sentir de um povo quanto teima em ser independente:
Desde então a bater
No meu peito em segredo
Sinto uma voz dizer
Teima, teima sem medo