Memória triste destes dias de incerteza
Há casos que nos transtornam de tal modo que demora a que a aflição acalme, deixando-nos memórias incómodas.
As histórias (ou estórias) que se ouvem, mais fidedignas ou mais rocambolescas, apontam os jovens (e não só ) como protagonistas de comportamentos fora do padrão socialmente válido. Rotulamos, julgamos, condenamos, sem direito a contraditório nem defesa.
Estivemos encarcerados na nossa própria casa, submetidos a regras que nos expropriaram a liberdade e o convívio social e o saldo traduziu-se na acumulação de stress, energias negativas, desespero e uma multidão de gente sem trabalho, sem futuro e sem esperança foi (é ) vitima de depressão. Nestas circunstâncias, é fácil enveredar por caminhos tortuosos, mas é muito mais difícil o retrocesso.
Urge encontrar soluções estruturadas que passam por cuidar da sua saúde física e mental. A todos deve ser dada a possibilidade de readquirir as suas competências sociais.
Assiste-se a um tempo de trincheiras em que cada um cava o seu reduto inexpugnável. Não nos tornámos melhores. Continuamos a olhar sem ver, a ouvir sem escutar. Metemos as mãos ao bolso, quando as deveríamos estender; recusamos o nosso ombro, quando deveríamos oferecê-lo como apoio, seguimos indiferentes quase sempre...
Esquecemo-nos que só há uma vida para viver que se consome como um fósforo.
Se pudéssemos olhar o coração nos olhos do outro, certamente, nos trataríamos com mais carinho, mais tolerância e mais cuidado. Quem sabe não evitaríamos tantos finais infelizes...
Quem sabe...
Madalena Castro