Será demais pedir paz?
A tensão a Leste mexe com todos
Boa noite!
Enquanto Putin se dedica ao revisionismo e arma o contexto ideal para que a Rússia invada a Ucrânia, o resto da Europa deita contas à vida e constata que todas as bolhas entretanto engendradas podem rebentar a qualquer momento.
Os preços do gás disparam, os fluxos turísticos ficam congelados e as bolsas entram em queda. A onda inflacionista perspectiva-se contagiosa, para mal dos nosso sonhos lusos a seca extrema agrava-se e as televisões - já sem pandemia em larga escala, sem alegados terroristas de trazer por casa e sem nova arruaça futebolística dos grandes - despejam discursos imperceptíveis com tradução simultânea, para que toda a gente entenda que na aldeia global a paz já não se segura com palavras negociadas.
A tensão a Leste mexe com todos de tal forma que, entre descarregar mágoas na redes, exortar à rebeldia e condenar ataques que violam os tratados nacionais; entre louvar o patriotismo de uns e repudiar o delírio de outros; entre apontar o dedo e cultivar a vingança, há quem prefira rezar e apelar à paz.
Distantes mas atentos à contenda, as Igrejas Católica, Anglicana, Luterana e Presbiteriana realizam na próxima quinta-feira, às 20 horas, na Catedral do Funchal, uma celebração ecuménica pela concórdia entre a Rússia e a Ucrânia. Numa era em que nem sempre abunda o altruísmo construtivo e em que nem sempre é fácil parar para pensar ou para ter presente os que vivem momentos de incerteza, o gesto de união universal, mesmo que susceptível de ser questionado pelos teclados dos não crentes, é diferenciador.
As guerras começam com pequenas brigas fomentadas por gente que não está em paz consigo mesma. É hora pois de apelar ao bom senso dos que se fazem valer dos poderes armados, sem provocações, ameaças e discursos inflamados, mas intensificando a mensagem que os inocentes não têm que sofrer à conta de caprichos intoleráveis. Não é difícil imaginar o que uma guerra anunciada tira a quem nasceu para viver e a angústia que provoca mesmo que não mate. Mas deve ser cruel. E sobre esse possível desfecho todos temos uma palavra a dizer.