Chefe da diplomacia de Kiev saúda em Bruxelas cimeira entre Biden e Putin
O chefe da diplomacia ucraniana saudou hoje em Bruxelas a organização de uma cimeira entre os Presidentes dos Estados Unidos e da Rússia, afirmando esperar um acordo que contemple a retirada das forças russas das fronteiras da Ucrânia.
"Falei durante a noite com o secretário de Estado [norte-americano, Antony] Blinken, que me informou sobre a iniciativa. Nós saudamos esta iniciativa. Acreditamos que todos os esforços que visam uma solução diplomática valem a pena", declarou Dmytro Kuleba, à chegada a um encontro informal com os ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia (UE).
Apontando que o chefe da diplomacia norte-americana lhe assegurou que, "tal como tem sido o caso até agora, não serão tomadas decisões sobre a Ucrânia nas costas da Ucrânia", o ministro ucraniano disse esperar que o encontro entre Joe Biden e Vladimir Putin resulte num acordo.
"Esperamos claro, como seres humanos, como alguém que desesperadamente quer evitar a guerra, que os dois Presidentes saíam da sala com um acordo que contemple a retirada das forças da Rússia", disse Dmytro Kuleba, insistindo que essa é a questão-chave para o desanuviamento das tensões, pois, "se tal não acontecer, significa que seguimos na mesma lógica de escalada da Rússia".
Já quanto ao encontro informal que manterá hoje de manhã com os chefes de diplomacia dos 27 -- entre os quais o ministro Augusto Santos Silva -, Kuleba disse esperar que a UE tome e anuncie "decisões".
"Esperamos decisões. Há muitas decisões que a UE pode tomar agora para enviar mensagens claras para a Rússia no sentido de que esta escalada não será tolerada e que a Ucrânia não será deixada sozinha. Tal inclui não apenas sinais políticos, mas também ações muito específicas, como apoiar o desenvolvimento do setor de defesa, da cibersegurança e impor algumas das sanções" já previstas em caso de agressão russa, prosseguiu o representante ucraniano.
"Essa é uma das mensagens que transmitirei aos meus colegas hoje: acreditamos que há boas razões, e razões legítimas, para impor pelo menos algumas das sanções agora, para mostrar que não são apenas palavras", disse.
Os ministros dos Negócios Estrangeiros da UE discutem hoje em Bruxelas com o seu homólogo ucraniano a crescente crise nas fronteiras da Ucrânia, onde a Rússia mantém meios militares que fazem recear um ataque em grande escala.
A discussão informal, ao pequeno-almoço, terá já em conta os desenvolvimentos das últimas 24 horas, designadamente o acordo de princípio entre os líderes da Rússia, Vladimir Putin, e dos Estados Unidos, Joe Biden, de realizarem uma cimeira sobre a segurança, proposta pelo Presidente da França (país que ocupa atualmente a presidência semestral do Conselho da UE), Emmanuel Macron.
A Presidência francesa indicou num breve comunicado que, em sucessivas conversas telefónica com os dois líderes, Macron propôs que uma cimeira sobre segurança e estabilidade estratégica na Europa seja realizada, primeiro entre Putin e Biden, "e depois com todas as partes envolvidas".
O Eliseu observou que tanto Biden quanto Putin aceitaram o encontro, que segundo as autoridades francesas "só pode ser realizado se a Rússia não invadir a Ucrânia".
O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, e o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergei Lavrov, irão abordar o conteúdo desta cimeira durante uma reunião bilateral a 24 de fevereiro, enquanto Macron também trabalhará "com todas as partes envolvidas" para preparar a cimeira.
O Ocidente e a Rússia vivem atualmente um momento de forte tensão, com o regime de Moscovo a ser acusado de concentrar pelo menos 150.000 soldados nas fronteiras da Ucrânia, numa aparente preparação para uma potencial invasão do país vizinho.
Moscovo desmente qualquer intenção bélica e afirma ter retirado parte do contingente da zona.
Entretanto, aumentaram nos últimos dias os confrontos entre o exército da Ucrânia e os separatistas pró-russos no leste do país, na região do Donbass, onde a guerra entre estas duas fações se prolonga desde 2014.