“Assassinado pela indiferença”
“Assassinado pela indiferença” foi o título que um jornalista deu à notícia do falecimento, por hipotermia, do fotógrafo francês René Robert, aos 84 anos, depois de ter passado a noite no chão de uma das ruas mais movimentadas de Paris. Para quem não leu a notícia, René saiu da sua habitação, desmaiou e caiu no passeio. Durante nove horas esteve no chão de uma das ruas movimentadas de Paris e ninguém parou para saber o que se passava. Só na manhã seguinte uma pessoa na situação de sem-abrigo telefonou para a emergência médica, mas já era tarde e René morreu de frio.
A questão que devemos colocar não é tanto a que nos permitiria saber porque os Parisienses não pararam, mas sim a pergunta a nós próprios se teríamos parado. A resposta fácil é dizer que certamente teríamos parado, só que individualmente, e como sociedade, não temos parado para ajudar e encontrar soluções para os mais vulneráveis na sociedade como o era René naquela altura.
A ideia que o Estado existe para resolver este tipo de situações, leva-nos a, como cidadãos, não nos querermos envolver em problemas que não são os nossos. Não que sejamos indiferentes, mas por sentirmos que não sabemos o que fazer na situação concreta e recearmos que poderemos vir a ficar com mais um problema a juntar a todos os que já temos na nossa vivência diária.
A pessoa na situação de sem-abrigo viu aquilo que os outros não pararam para ver… o René não era um “sem-abrigo”, mas alguém que precisava de ajuda.
Temos aqui neste triste acontecimento duas problemáticas que devemos ter coragem de enfrentar, discutir e resolver: a das fragilidades de estar numa situação de sem-abrigo e a das fragilidades que o envelhecimento acarreta.
Li que no Funchal a primeira problemática está a ser enfrentada, espero que a segunda não seja esquecida.
Acredito que na região não haja idosos que morrem de hipotermia nas suas casas, mas tal acontece (ou aconteceu) no Continente e durante o Inverno muitos idosos acabam por falecer devido a complicações provocadas pelo frio que passam nas suas casas ou, como alguns estudos mostram, nos lares onde residem.
Os Parisienses não pararam… e nós quando vamos parar?