Arma semiautomática para crianças gera contestação nos Estados Unidos
A comercialização nos Estados Unidos de uma arma semiautomática especificamente projetada para crianças, inspirada no modelo AR-15 associado a assaltos e vários tiroteios mortais, está a gerar indignação entre as associações que lutam contra a política de armas.
"É a primeira de muitas armas que ajudarão os adultos a introduzir as crianças no desporto de tiro com segurança", refere a empresa WEE1 Tactical, que descreve no seu 'site' a espingarda como "a arma do pai e da mãe".
A JR-15 ('J' de júnior) tem apenas 80 centímetros de comprimento e pesa menos de um quilo, sendo fornecida com carregadores de cinco ou dez cartuchos de munição calibre 22, tendo sido lançada em meados de janeiro com um preço de 389 dólares (cerca de 340 euros).
O modelo para adultos, a AR-15, é a versão civil de uma arma de estilo militar usada numa série de assassinatos, inclusive em escolas, e que causaram consternação nos Estados Unidos.
Os tiroteios são um flagelo recorrente nos Estados Unidos, onde o direito de possuir armas é assegurado pela Constituição.
As tentativas para regular a venda de armas são frequentemente bloqueadas no Congresso norte-americano, onde o poderoso 'lobby' de armas da Associação Nacional de Armas (NRA, na sigla em inglês) exerce uma forte influência.
Em 14 de dezembro de 2012, um jovem com problemas mentais matou 26 pessoas, incluindo 20 crianças, numa escola em Newtown, Connecticut, com recurso a uma AR-15.
Esta arma também foi usada em tiroteios em Las Vegas, em 2017, o mais mortífero da história recente do país com 58 mortos, ou na Florida, que resultou em 17 mortos, em 2018.
"À primeira vista parece uma piada grotesca. Ao olhar com mais atenção, é apenas grotesco", salientou na sexta-feira Josh Sugarmann, responsável da organização Violence Policy Center, que luta contra a violência armada nos Estados Unidos.
No seu relatório sobre os métodos dos fabricantes de armas norte-americanos para atrair jovens, publicado em 2016, esta associação denunciava armas pintadas com cores vivas, como rosa, vermelho, laranja ou roxo, apreciadas por públicos mais jovens, sendo também mais leves de manusear.
Em 2021, as armas de fogo mataram quase 45.000 pessoas nos Estados Unidos, incluindo cerca de 24.000 suicídios, e mais de 1.500 menores foram mortos, segundo a organização Gun Violence Archive.