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Ler é decifrar? Ou é preciso compreender? Que dilema…

Que dilema! Faz lembrar a velha história de quem nasce primeiro… o ovo ou a galinha?

Se um leitor decifra uma palavra, uma frase ou um texto, significa que lê?

Há que descortinar noções e aprimorar conhecimentos.

Na primeira metade do século XX, a leitura era definida como um conjunto de habilidades ensináveis que permitiam a um indivíduo adquirir informação.

Em 1949, as habilidades essenciais de compreensão da leitura podiam ser divididas em habilidades relacionadas com a simples compreensão; de recordação oral e escrita e habilidades relacionadas com processos relacionados com a leitura e compreensão em habilidades de leitura rápida.

Já em 1965, Smith considerava que mereciam especial as habilidades de: sequenciar eventos de uma história; predizer os resultados de uma história, delinear conclusões e encontrar a ideia principal. Acreditava-se que a leitura podia ser melhorada ajudando os alunos a alcançar níveis mínimos de mestria em cada uma destas capacidades, configurando uma conceção comportamental analítica da leitura.

Guthrie (1973), descreveu a compreensão da leitura como uma habilidade que podia ser dominada e o somatório de todas elas permitiria a compreensão da leitura. À época, a investigação não tinha ainda sido capaz de esclarecer suficientemente a natureza, a independência ou os níveis de dificuldades de habilidades de compreensão na leitura, pelo que era necessária mais investigação.

A partir da década de 70, a investigação sobre a compreensão da leitura sofreu um incremento, acompanhado por mudanças conceptuais. A compreensão da leitura deixa de ser vista como um processo passivo, para ser um processo ativo que envolve o leitor. A compreensão passa também a ter um destaque central nas principais definições do conceito de leitura.

Atualmente é consensual que ler é compreender e a compreensão é um processo complexo que se relaciona com o modo como o leitor estabelece relações com o texto. Também o Reading Study Group (2002) considera a leitura como o processo de extrair e construir significado através da interação e envolvimento com a língua escrita.

A leitura é uma atividade muito complexa, em que o leitor tem de conhecer os sinais gráficos explícitos no material escrito e tem de interagir com a informação lida de modo a construir e extrair significado/sentido do texto e construindo pensamento, de modo crítico.

A compreensão da leitura é concebida como o produto da descodificação e da compreensão da linguagem oral. A identificação das palavras escritas (descodificação) é fundamental para a compreensão da leitura, mas não é suficiente. O mesmo acontece com a compreensão oral. Se existirem défices em qualquer uma destas duas competências (descodificação e compreensão oral) resultarão num baixo desempenho em termos de compreensão da leitura.

Para ler é imprescindível decifrar (identificar as letras e as palavras) e discriminá-las em termos percetivos (visuais e auditivos).

Decifrar é uma competência particular e específica da leitura, que tem de ser automatizada, de modo que o leitor seja considerado fluente. Os leitores com fracas capacidades de descodificação ou de leitura de palavras dedicam uma parte significativa dos seus recursos cognitivos à identificação das letras e das palavras, sobrecarregando a memória operativa, o que perturba a captação do significado global das frases do texto.

Durante a leitura, o leitor é considerado um sujeito ativo que utiliza conhecimentos variados para obter informação do material escrito, fazendo uma reconstrução do significado. Assim sendo, compreender o sentido de um texto exige que o leitor compreenda os elementos existentes na frase e estabeleça relações que permitam coesão entre as diferentes partes do texto, de modo a existir coerência entre as frases. Obviamente que o leitor para compreender um texto deve também captar os elementos principais sobre o texto, entender o seu significado, indo para além da esfera textual levando-o à realização de inferências e integrando-as num contexto. Só assim é que o leitor conseguirá gerir a compreensão do texto, mobilizando os seus conhecimentos prévios e relacionando-os com o texto. Para isso, é fulcral ajudar o leitor a aprender a fazer todas estas conexões.

Deste modo, ler não é decifrar, mas acima de tudo é COMPREENDER. Decifrar os grafemas, sem haver compreensão do material escrito?! NÃO, não é leitura! Só há leitura se houver domínio do código alfabético e compreensão. LER é mesmo COMPREENDER!

Por isso há que ter cuidado com a utilização da frase “o meu filho sabe ler…!”