Madeira

Chegada da Ryanair coloca diversos desafios à Madeira

Companhia aérea irlandesa de baixo custo começa a operar no próximo mês

Os convidados perfilaram o presente e planearam o futuro a propósito da chegada da companhia aérea irlandesa à Região.
Os convidados perfilaram o presente e planearam o futuro a propósito da chegada da companhia aérea irlandesa à Região.

Que efeito terá a chegada da Ryanair, na Região, já a partir do próximo mês? Esta foi última questão lançada por Leonel de Freitas para a mesa do Debate da Semana da TSF-Madeira que contou, ontem, com o painel de economistas.

Os convidados perfilaram o presente e planearam o futuro a propósito da 'aterragem' da companhia aérea irlandesa na Região e a vice-presidente da Câmara Municipal do Funchal, Cristina Pedra pediu uma clara aposta na qualidade do serviço prestado, não só na hotelaria, mas também na própria experiência dos visitantes.

"Em relação à capacidade que temos eu gostaria de pensar que a aposta é na qualidade da própria hotelaria - que vai muito para além das unidades hoteleiras", precisou Cristina Pedra, vincando a necessidade em recuperar os espaços verdes ou, a título de exemplo, "ter casas de banho nos miradouros e nos lugares onde se visita".

Hoje um turista não se basta com uma visita apenas a uma levada, a ver um miradouro qualquer ou ver qualquer cenário. Precisa de experiências integradas e essas é que têm valor acrescentado. É importante aumentar o RevPAR, é importante os preços não nivelarem por baixo, é importante não existirem situações em que os preços que muitas vezes se conhecem parecem-me que pagam para ter clientes. Se nivelarmos por baixo vamos ter uma má procura. Se nivelarmos pela qualidade e por cima vamos ter um destino aprazível, que vem cá quem puder pagar. Cristina Pedra

Já Paulo Pereira olha para a chegada da Ryanair como um factor positivo, desde logo pela “menor dependência” em relação à TAP, estabelecendo também uma ligação “no espírito da própria banca”, isto é, o sector encara a situação com “uma visão mais calma e de mais optimismo”.

A Ryanair proporciona voos superseguros e a um preço super baixo, porque é uma empresa bem gerida e habituada a ambiente concorrencial, o que vai permitir - além de trazer mais pessoas - que a viagem ao ser mais barata cria o desafio ao destino de não haver desculpa para dizer que os turistas gastam tanto na viagem que sobra pouco para gastar cá. Paulo Pereira

O economista lança o desafio de "tentar criar condições para se puder finalmente cobrar mais" - numa tentativa de gerar valor acrescentado -, mas "não só porque se quer", ou seja, "tem de ser algo concertado". O optimismo é por isso "generalizado" e "a própria TAP já está a olhar para isto de forma diferente".

Ryanair começa a voar em Março e reservas já estão disponíveis

Após o anúncio feito esta manhã pelo CEO da companhia, Eddie Wilson - que prometeu viagens a 30 euros - a Ryanair já abriu as reservas no seu site oficial e comprova-se que a transportadora inicia a sua actividade a 27 de Março, em voo proveniente de Lisboa

Quanto a André Barreto, o empresário hoteleiro lançou uma dura crítica aos hotéis de cinco estrelas da cidade do Funchal que vendem quartos abaixo dos 100 euros.

A entrada da Ryanair introduz mais concorrência e atenção a Ryanair não pratica turismo. A Ryanair transporta turistas para a Região. Que tipo de turista transporta? Os hotéis aqui da Região há já muito tempo que têm tratado de resolver essa questão do preço. Quando nós temos hotéis de 5 estrelas no centro do Funchal [com quartos] a serem vendidos a menos de 100 euros eu penso que está tudo dito. André Barreto

André Barreto estima ainda que “vamos falhar nos recursos humanos” visto que já existe “falta de gente” para trabalhar.

PRR motiva críticas ao Governo Regional

O debate também andou “à volta de três palavrinhas”: Plano de Recuperação e Resiliência. Na óptica de André Barreto as dúvidas “instalam-se quando nós vamos ver o que é que se entende por quem tem necessidade de ser recuperado e por quem precisa de ajuda para ser resiliente”.

É o tal ponto que não consigo entender. Não consigo entender nada. Um Plano de Recuperação de Resiliência que prevê 0 euros de apoio a empresas é o quê? Um Plano de Recuperação e Resiliência que prevê um campo de futebol para Câmara de Lobos? André Barreto

O economista lembrou que no seu sector - hoteleiro - foi obrigado “a expulsar os clientes” que tinha “dentro de casa” e foi impedido “várias vezes ao longo de dois anos de receber” pessoas.

Os apoios que foram “manifestamente insuficientes” e que se traduzem em “esmolas” também não ajudam. Tendo nas suas mãos um hotel que dispões de 42 quartos, André Barreto assume ter perdido 1 milhão e meio de euros.

Apoios? É um absurdo o PRR não contemplar ajudas às empresas. Não me interessa de quem é a culpa. Toda a gente deixou que isto acontecesse. André Barreto

Também Cristina Pedra lamentou “as opções políticas que foram tomadas ignorando os destinatários das empresas”, decisão que “não merece” a aprovação da autarca “de forma alguma”.

Vou dar um exemplo simples que voltou a acontecer: o senhor primeiro-ministro decretou aumentos muito expressivos do salário mínimo nacional - que é um valor pequeno para quem recebe, mas que é quase o dobro para as empresas com encargos da Segurança Social e por 11 meses úteis de trabalho. Vemos aqui o fosso e a famosa carga fiscal de que temos vindo a falar. É fácil dizer os outros que paguem.

Cristina Pedra aponta o dedo ao primeiro-ministro por ter aumentado os rendimentos mínimo do país “à conta das empresas”.

Por fim, Paulo Pereira abordou um assunto que “vai afectar” a Madeira “nos próximos tempos”. É que os “minimis estão esgotados para o grosso das empresas da Região que têm capacidade de investimento”.

Para quem não sabe, a União Europeia “não permite” que as linhas de financiamento às empresas “excedam os 200 mil euros durante três anos” o que “é muito dinheiro”.

“Só que a Madeira com as linhas Covid - transformadas ou não em fundo perdido - automaticamente consumiram” esses fundos e “ficam tapadas durante três anos”.

Quer isto dizer que os empresários terão agora de “lamber feridas dos prejuízos” causados pela pandemia “e sem ajudas para alavancar” os seus negócios.