Populares expulsam polícias de bairro de Caracas em protesto por abusos policiais
Centenas de pessoas expulsaram um grupo de polícias do populoso bairro pobre de Petare, no leste de Caracas, na Venezuela, em protesto pelos abusos das forças de segurança.
O protesto, filmado, e publicado nas redes sociais, ouve-se a população gritar "não queremos 'chulos' (...) não os queremos aqui", em alusão a polícias que alegadamente extorquem dinheiro aos residentes na localidade de José Félix Ribas.
O protesto teve lugar depois de funcionários da Polícia Nacional Bolivariana e da Guarda Nacional Bolivariana (polícia militar) bloquearem a circulação em direção à vizinha localidade de Palo Verde.
A imprensa local dá conta que a população obrigou os polícias a subirem às suas viaturas de patrulhamento e a abandonar o lugar.
Os 'petareños' (residentes no bairro de Petare) protestam pelo facto de os assassínios alegadamente cometidos pelas forças de segurança, as detenções arbitrárias e as situações de violência contra as mulheres ficam impunes.
As redes sociais somam denúncias de que funcionários das forças de segurança atemorizam a população, roubam e extorquem dinheiro aos residentes em Petare, um bairro onde residem mais de 400.000 pessoas e são frequentes as queixas de falhas no abastecimento de água, de gás butano e na recolha do lixo.
O protesto tem lugar depois de a organização não-governamental Controlo Cidadão (CC) denunciar, na quinta-feira, que 106 pessoas foram "abatidos" pelas forças de segurança, em janeiro de 2022.
"Mais de três (3) pessoas foram assassinadas diariamente pelas forças de segurança do Estado em alegados confrontos (...). A Venezuela parece estar a avançar no desenvolvimento de uma política de segurança cidadã que prefere 'executar' alegados criminosos em vez de os processar e reintegrá-los na sociedade", explicou a CC em comunicado.
No documento precisa-se que "estes 106 assassinatos, às mãos da polícia e dos militares, ocorreram no primeiro mês do ano 2022 e justificados pelo Estado venezuelano por tratar-se de alegados 'confrontos com criminosos', têm as características, na maioria dos casos, de ser 'execuções extrajudiciais', violando os direitos à vida, à integridade pessoal e ao devido processo".
Entre os casos denunciados, a CC referiu o homicídio de Jackson Eduardo May, de 28 anos, ocorrido em Petare. A sua mulher, Elena González, denunciou que May foi sequestrado por alegados funcionários policiais em 15 de janeiro e, depois, apareceu morto numa morgue local.
A mesma organização apontou o caso do jovem menor de idade Jean Carlos Leonel González Amundaraín, assassinado com um tiro no peito, por militares, quando em 21 de janeiro tentou entrar no clube da Guarda Nacional Bolivariana em El Paraíso, Caracas.
Segundo a CC, os assassínios registaram-se na cidade de Caracas e nos estados de Anzoátegui, Arágua, Barinas, Bolívar, Carabobo, Falcão, Guárico, La Guaira, Miranda, Monagas, Nueva Esparta, Portuguesa, Sucre, Trujillo, Yaracuy e Zúlia.
Os cinco estados que registaram o maior número de casos foram Arágua, Zúlia, Yaracuy, Miranda e Carabobo.
Segundo a CC, em dezembro do ano passado 51 pessoas foram assassinadas pelas forças de segurança na Venezuela.