Boa Noite

Um erro de cálculo

A polémica europeia em tornos dos rótulos das bebidas alcoólicas tirou o foco do essencial. Coisas de políticos

Boa noite!

Quem conhece minimamente os bastidores das grandes decisões europeias sabe que os lobbies sectoriais, permitidos e tolerados, são influentes e capazes de argumentar.

Não admira por isso que as apelidadas minorias radicais ou fundamentalistas que tentaram que as garrafas de bebidas alcoólicas passassem a ter rótulos de alerta para o risco de cancro, a exemplo do que já acontece com o tabaco, fossem derrotadas.

Contudo, aqueles que tudo fizeram para que a medida que esteve em discussão no Parlamento Europeu fosse aprovada – entre os quais a madeirense Sara Cerdas – cometeram outros erros de cálculo, que não pondo em causa o essencial, o de haver uma estratégia e um plano europeu de Combate ao Cancro, desviaram as atenções dos aspectos relativos à “necessidade de envidar mais esforços para prevenir e tratar esta doença”. Esse era o principal desejo dos eurodeputados, mas o que sobra das discussões não rende simpatias e, porventura, votos futuros.

Tratar todo o consumo por igual, como se já não houvesse apelos à moderação e à responsabilidade, foi imprudente. Se é verdade que o consumo nocivo de bebidas alcoólicas provoca cancro e outras doenças, está por provar que meio copo de vinho - por vezes recomendado por médicos sóbrios - ou uma ‘lambreta’ de quando em vez, é fatal para a saúde. Tentar que os eventos, desde os desportivos aos culturais, não sejam patrocinados por marcas de cerveja, é, em parte, negligenciar o funcionamento dos mercados e o posicionamento das marcas. Tudo fazer para dar substracto científico a teses, sem ter a preocupação de exibir evidências inquestionáveis, é lirismo.

Tudo o que é excessivo merece combate em larga escala, sobretudo com recurso a expedientes que sejam eficazes, mesmo que menos vistosos. A subida de impostos sobre o álcool de modo a desincentivar o consumo é bem mais recomendável do que procurar escandalizar ou estigmatizar, por via da rotulagem, quem bebe socialmente ou aprecia com subtileza um elemento cultural que traz consigo gentes, territórios e tradições.

Para quem já viu a morte em directo de gente saudável, como o Fehér, ou sempre ouviu dizer que brindar com água dá azar, tudo é relativo. Por isso, independentemente das imagens chocantes ou das mensagens pedagógicas, cabe a cada um fazer escolhas conscientes na busca permanente pela felicidade.