A imagem do que somos
Ser goleado e sair em ombros é um bom antídoto para o futebol que se perde em desacatados
Boa noite!
O futebol não é apenas aquilo que gera polémica, violência e castigos. É bem mais do que essa vertente redutora do espectáculo e da indústria milionária, do que a irracionalidade que não distingue o bem do mal, do que a vingança inconcebível e do que a miserável discussão que alimenta o insulto fácil e as inimizades doentias.
Quando bem jogado, o futebol é arte, estratégia e paixão. É finta, passe e golo. É alegria, convívio e justiça.
Quem quer ganhar a qualquer custo, sem respeitar o adversário, o talento alheio e o mérito indiscutível arrisca-se a perder. Mas quem sabe aceitar a derrota, por um ou por muitos, reconhecendo o valor dos melhores, dando o que sabe e esforçando-se por mudar o rumo dos acontecimentos, triunfa em diferentes domínios, que vão da responsabilidade social à verdade desportiva.
Da noite de goleada em Alvalade sobra um admirável tributo de milhares de adeptos aos seus, à boa maneira inglesa. Mas também alguns assobios despropositados aos portugueses do City, apenas porque foram formados no rival, quando até um deles - Bernardo Silva - foi eleito o melhor em campo. De qualquer forma, depois de uma semana de desacatos dentro e fora de campo, é um sinal de esperança haver uma multidão de sportinguistas que se concentra no essencial e não patrocina, à boleia de uma goleada, a humilhação dos valores e dos bons costumes. Um gesto que importa replicar nos jogos aparentemente para consumo interno, mas que levam ao mundo a imagem do que somos.