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Pedidos de apoio financeiro das famílias com crianças com cancro aumentaram na pandemia

Foto Shutterstock
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A pandemia fez crescer os pedidos de apoio económico das famílias com crianças com cancro, uma situação que se tem mantido e que levou a associação Acreditar a aumentar em 60% o apoio social logo no primeiro ano.

Em declarações à Lusa, a diretora-geral da Acreditar -- Associação de Pais e Amigos de Crianças com Cancro, Margarida Cruz, contou que a organização, que no ano passado ajudou quase 2.000 famílias, começou a ter cada vez mais pedidos de apoio económico.

"Nós reforçámos em 2020 o orçamento, divergindo das atividades que não íamos fazer por causa da pandemia, como as saídas e os encontros de famílias (...), e reorganizámos tudo para apoio social. No primeiro ano da pandemia, aumentámos em quase 60% a verba para apoio social e gastámo-la toda", explicou.

Margarida Cruz disse que esta é uma realidade que se tem mantido e que o valor do apoio económico direto às famílias já ronda os 300.000 euros.

"Para uma associação que não é grande (...) é significativo. Nós neste momento já vamos em cerca de 300 mil euros em apoio económico direto às famílias, sem contar com a entrega de bens materiais", adiantou.

A responsável contou que, com a pandemia, a Acreditar teve de reformular todo o apoio que entregava em bens alimentares, que deixaram de ser entregues diretamente.

"Percebemos rapidamente que isso era uma forma de promover um contacto com as pessoas, que estávamos a promover a circulação de pessoas, quando elas queriam era circular o mínimo possível".

"De imediato, pedimos ajuda aos nossos mecenas e fomos correspondidos, felizmente. Passámos a dar cartões de supermercado que garante que as pessoas possam comprar o seu cabaz de alimentos e ajustar também as suas necessidades", acrescentou.

Os dados da Acreditar indicam que, só em 2021, a associação ajudou 1.911 famílias, com apoio emocional e psicológico, económico, material e escolar. No ano anterior tinham sido 1.520 famílias.

Margarida Cruz sublinhou o impacto psicológico da pandemia nesta famílias.

"Os nosso voluntários deixaram de poder estar dentro dos hospitais e as famílias ficaram mais isoladas, com a criança em tratamento e a mãe e pai igualmente internados no hospital, para a acompanhar, e sem poder ser revezados ou ter quaisquer contactos com o exterior, ou vistas".

"Este isolamento, que já é pesado com a doença, nestes casos, com internamentos muito longos, tem impacto muito maior", insistiu.

Para responder a esta fragilidade, a Acreditar lançou no ano passado consultas de apoio psicológico às famílias. A ideia é "ajudá-las a reformular-se (...). É apoio garantido durante algum tempo, de modo a que possam fortalecer-se psicologicamente e encarar a vida de forma o mais positiva possível".

"Antes dávamos apoio emocional pois sentíamos que os serviços nos hospitais garantiam o apoio psicológico, mas, com a pandemia, sentimos que, com toda a boa vontade, isso não chegava e era preciso reforçar", disse a responsável, acrescentando: "Como também trabalhámos a questão do luto parental e estivemos ainda mais próximos das famílias que perderam filhos, sentimos que também estas tinham necessidade de reforço no apoio psicológico, às vezes ao longo de um período ainda relativamente extenso".

Com a impossibilidade de os voluntários estarem nos hospitais, a associação encontrou forma de fazer chegar toda a informação às famílias, através de montras digitais nos hospitais.

Margarida Cruz explicou também a diferença sentida pelas crianças e jovens apoiados pela Acreditar através do programa de apoio escolar 'Aprender Mais' quando a escola pública teve de se adaptar às aulas à distância.

"Quando todos os outros jovens e crianças foram para casa para ter aulas remotas, [as nossas crianças] sentiram-se muito felizes, porque finalmente tinham acesso à escola remota, que era uma coisa pela qual nós lutávamos muito e tínhamos muita dificuldade em conseguir", explicou.

"Estas crianças e estes jovens estão afastados muitas vezes da escola durante períodos muito longos, às vezes anos, e não é fácil conseguir que a escola disponibilize o equipamento e a assistência necessários para que eles possam assistir remotamente", acrescentou.

Depois de, na primeira fase, se mostrarem maravilhados por conseguir "ter aulas como os outros", quando as escolas reabriram a frustração voltou: "Quando de repente os alunos voltaram à escola, eles voltaram a sentir-se frustrados porque pensavam que a partir dali iam poder sempre garantir este acesso".

A responsável contou que a associação reforçou o programa Aprender Mais e que, neste momento, ajuda na aprendizagem de 30 crianças e jovens.

"Conseguimos prestar apoio a mais crianças e jovens com professores voluntários, com quem fizemos acordos, a nível nacional".

"Gostávamos de poder ter ainda mais professores voluntários a ajudar-nos, principalmente em áreas como a matemática, mas temos tido alguma dificuldade em encontrar", explicou a responsável, acrescentando que a Acreditar também conseguiu aumentar o número de bolsas de estudo que atribui, contando já com 12.

A associação vai ainda reforçar o apoio jurídico às famílias, uma necessidade sentida quando as regras da pandemia "mudavam quase diariamente" e os pais não sabiam bem com o que podiam contar.

"Havia regras novas todos os dias e sentimos que estas famílias tinham necessidade de um apoio jurídico reforçado. Vamos abrir agora em fevereiro uma espécie de clínica jurídica, em que as pessoas possam recorrer a um advogado", explicou Margarida Cruz, sublinhando: "queremos tirar do caminho aquilo que são os problemas adjacentes que podemos ajudar a estas famílias a resolver".