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Federações partidárias agitam a política brasileira mas não retiram votos de Lula e Bolsonaro

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O analista brasileiro Paulo Níccoli Ramirez considera que a formação de federações partidárias está a fazer mexer o cenário político no Brasil, mas não deve retirar votos de Lula da Silva e de Jair Bolsonaro nas presidenciais.

"As federações terão um impacto maior nas dinâmicas do legislativo e sua relação com o executivo, após as eleições. Em relação as eleições presidenciais, acho difícil ter um grande impacto", afirmou Ramirez, professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fesp).

"Com exceção do PT [Partido dos Trabalhadores] os demais partidos estão se reorganizando e como o STF [Supremo Tribunal Federal] estendeu até maio o prazo para formação destas federações, teremos que esperar mais dois meses para entender até que ponto elas serão determinantes para as eleições presidenciais. Por enquanto, intervém muito pouco", acrescentou o cientista social e professor da Fesp.

O Congresso brasileiro aprovou mudanças na legislação eleitoral cuja constitucionalidade foi confirmada na última quinta-feira pelo Supremo Tribunal Federal (STF), permitindo a união de dois ou mais partidos em federações.

Diferentemente das coligações, as federações partidárias a serem adotadas no Brasil possibilitarão que os partidos concorram de forma unificada, mas ficarão obrigados a permanecerem juntos por, pelo menos, quatro anos.

Se os partidos se unirem em federações nas eleições agendadas para outubro próximo, por exemplo, disputarão em conjunto à Presidência - se optarem por lançar um candidato -, as vagas dos órgãos legislativos federal e estadual, os governos dos 27 estados e as próximas eleições municipais, marcadas para 2024.

Além disto, as federações terão de formalizar um programa político comum, que será registado no momento da sua criação. 

Partidos de esquerda discutem a formação de uma federação para apoiar a provável candidatura de Lula da Silva - líder com mais de 40% das intenções de voto nas sondagens realizadas no país -, que reuniria inicialmente o Partido dos Trabalhadores (PT), o Partido Socialista Brasileiro (PSB), o partido Verde (PV) e o Partido Comunista do Brasil (PCdoB).

Além disso, partidos de centro-direita como o Podemos, que tem o ex-juiz Sérgio Moro como pré-candidato à Presidência, e o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), que tem o governador de São Paulo, João Dória, como pré-candidato à Presidência, anunciaram conversas sobre federações com outras siglas de centro-direita como o Aliança pelo Brasil ou o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), tentando alavancar as suas campanhas que tem apoio, respetivamente, cerca de 7% e 2% dos eleitores brasileiros.

No caso do atual Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, que tem cerca de 25% das intenções de voto, não há sinais de que sigla que ele está filiado, o Partido Liberal (PL), se una formalmente numa federação com outras agremiações.

À Lusa, Ramirez considerou natural a movimentação na esquerda já que o nome do ex-presidente Lula da Silva desponta com muita força e, portanto, partidos de médio e pequeno porte deste campo ideológico começaram a aproximar-se do PT.

O professor da Fesp frisou também que os outros partidos que discutem federações têm olhado mais para o Congresso e os estados, já que estão a acompanhar as sondagens eleitorais que reiteradamente mostram Lula da Silva e Bolsonaro bem à frente dos demais possíveis candidatos.

"Este cenário [apresentado nas sondagens] tende a beneficiar tanto Lula da Silva quanto Bolsonaro a chegarem à segunda volta. O Lula da Silva terá como discurso promover um mutirão [mobilização coletiva] para atrair vários partidos, mesmo aqueles que não estejam federados a participarem no seu Governo. Isto já atraiu certas alas inclusive do PSDB. Não por acaso o Geraldo Alckmin saiu do partido [PSDB]", avaliou Ramirez.

"Por outro lado, Bolsonaro atrai deputados e membros do centrão [partidos de centro] que são mais conservadores e os evangélicos", completou.

O especialista salientou que a formação de federações, portanto, não parece ser capaz de alterar a tendência e romper a provável disputa entre Lula da Silva e Bolsonaro pela Presidência do Brasil em outubro próximo.

"As sondagens têm mostrado estabilidade do Lula da Silva [que está] muito próximo de vencer na primeira volta. O Bolsonaro mantém-se na margem de 20% a 25% [dos votos] (...) Este cenário vai mostrando o que podemos esperar, que é uma disputa maior entre Lula da Silva e Bolsonaro", concluiu o professor da Fesp.