As vizinhas e o São Valentim!

- Vizinha, venha à varanda num instantinho para falarmos um bocadinho.

- Oh, mulher… O que é que a vizinha me quer?

- Estava aqui sozinha a pensar de mim para mim. A esta hora a vizinha não se lembra do dia de S. Valentim.

- Eu até podia não me recordar, mas meu marido – aquele sabido - estava aqui para me lembrar. Todos os anos eu ainda mal abro os olhos e já está ele a dizer assim: Maria, hoje é dia de S. Valentim.

- Que sorte ter um marido assim! Nos dias de hoje, o amor é um jogo, e ter um marido desses é como nos sair o totoloto! O “meu camafeu” se de manhã a data lhe for recordar, vira-me as costas e continua a ressonar.

- Credo, vizinha, seu marido deve andar cansado, não faça caso, ele nem 50 anos tem não pode estar assim tão enfastiado.

- Sei lá. Que Deus me perdoe se isto é pecado, mas às vezes até penso que ele anda “almoçando” e “jantando” noutro lado!

- Isso então é que é o diabo. Vizinha, com essas coisas eu não brinco, se ele fosse meu marido já o tinha trocado por dois de 25.

- Vire essa boca para outro lado, ainda posso vir a ser tentada pelo diabo.

- Se for um diabo que se lembre do dia de S. Valentim, olhe que não é tão mau assim.

- A vizinha com tudo caçoa, é mesmo um “mafarrico” em pessoa.

- Temos que dizer alguma coisa para rir, tristezas e problemas bastam as que temos para nos afligir.

- É verdade. Mas, falando com sinceridade, essa coisa do S. Valentim é mais para a mocidade.

- Vizinha, para amar não há idade, temos tudo para dar e receber como as jovens têm e ainda temos a maturidade. E, cá para nós, entre os homens, nunca houve tanta procura – como agora – por mulheres mais maduras!

- Não digo que não, talvez a vizinha tenha razão.

- Pois, mas vejo-a - tal como seu marido - com o S. Valentim meio perdido. Arrebite mulher, lute contra a passividade, não olhe para a sua idade, antes pelo contrário, dê exemplos para a mocidade, com demonstrações de carinho de amor e fraternidade.

E se seu marido nem um ramo de flores lhe der, ofereça a ele, mulher. Mesmo que sejam colhidas no seu jardim, pois as flores simbolizam a ternura que envolve o DIA DE SÃO VALENTIM.

- Desta vez tenho de reconhecer que a vizinha tem razão, até já sinto um certo palpitar no coração. Pode ser que sendo eu a ter a iniciativa aquele (meu) homem passe a dormir menos e a gozar mais a vida.

- E se a vizinha achar que ele gostou, que achou extraordinário, pega no DIA DE S. VALENTIM e põe todas as semanas no calendário.

- Credo, bendito, valha-me Nossa Senhora, não tarda que a vizinha me diga para comemorar o S. Valentim de hora a hora.

- E a rirem lá foram as vizinhas embora.

Juvenal Pereira