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Ética na liderança política

Hoje é comum, o uso da palavra ética em vários domínios. É a ética animal na área dos animais, é a ética ambiental na área do ambiente, é a ética desportiva na área do desporto, etc, etc. A ética, como palavra, demonstra ter uma enorme capacidade de atração e assim ter conquistado inúmeros utilizadores. E quanto à sua realização? Vejamos a ética interna dos partidos políticos, nomeadamente em relação ao comportamento dos seus líderes, quando em face de pesadas derrotas eleitorais? No plano ético da liderança, quando um líder político tem de enfrentar uma derrota eleitoral que se traduz na perda significativa de representatividade do seu partido político no respetivo parlamento, só há uma decisão ética possível: a colocação imediata da liderança e eventuais lugares conquistados à disposição do partido. Esta é uma decisão que deve estar na consciência do líder, mesmo antes de iniciar a liderança do partido numa contenda eleitoral. E nesse sentido, deve ser, exclusivamente, uma decisão unipessoal, que se anuncia no primeiro momento. A política e os seus líderes têm de ser um dos estandartes da ética. Quando se vê líderes de partidos políticos portugueses, que nas últimas eleições legislativas nacionais perderam, um 14 em 19, outro 6 em 12, e outro 3 em 4 deputados que detinham, e não colocam de imediato os seus lugares à disposição dos seus partidos, a sensação que passa é que não há enraizamento em si, de uma ética de liderança. Naturalmente que estes líderes, não ficam diminuídos dos seus direitos como militantes dos seus partidos e têm toda a legitimidade, e provavelmente a obrigação, se considerarem que os maus resultados não foram resultantes da sua performance e estratégia, mas também ou só, do caminho “minado”, por exemplo, internamente, de se apresentarem a nova corrida à liderança, e se a reconquistarem, ganharem então uma nova dimensão que reforçará a sua posição. Só através deste processo é que se pode ter condições para continuar a liderar um partido político onde se foi o rosto da derrota. A liderança exige ética e consolida-se com o exemplo de elevação e grandeza do que é o correto e convence ao ostentar a humildade de reconhecer que precisa e pede a participação da “equipa” para a reconfirmação ou não da liderança. Este aspeto tem particular importância quando a atividade de um político se realiza na persecução de objetivos nobres, que o exercício da política tanto carece. Só assim a continuidade ao longo do tempo poderá estar assegurada, pois reflete o compromisso com o desenvolvimento e o empenhamento na realização de projetos que beneficiem as pessoas. E não o culto da personalidade do líder e a satisfação dos seus caprichos, ou o estar agarrado ao lugar, quando os resultados que se obtêm demonstram que não há o mínimo de condições para continuar a ocupá-lo. Aqui, a dificuldade está em o líder envergar a farda do difícil trabalho ético, pois consiste em reconhecer, por um lado, a recorrência dos seus desejos e das suas ambições pessoais, e por outro, a possibilidade de protagonizar condutas constituídas por práticas que podem exalar a falta de pluralidade que, a prazo, limitam, inevitavelmente, tais desejos e ambições. Não é ético nem prudente, querer mudar o mundo para melhor, antes de se ter iniciado a mudança da própria casa, isto é, o comportamento enquanto líder. É que deste modo, a liderança torna-se um exercício contraditório, teatral e no limite perigoso.