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O que têm em comum os extremismos políticos

Os partidos ideologicamente posicionados nas franjas do espetro político têm adquirido maior relevância eleitoral nos últimos anos no mundo ocidental, traduzindo um clima político, mediático e social cada vez mais polarizado, podendo a adesão a tais ideologias ser explicada com base nos seguintes pressupostos:

1. Procura por significado:

A necessidade de sentir-se importante e respeitado devido ao desencantamento com as instituições e com um sistema que consideram injusto impele os indivíduos a identificar-se com a segurança de fortes e simples convicções ideológicas e com líderes mais carismáticos e personalistas, e a buscar um sentimento de proteção junto do grupo no qual se reconhecem contra o grupo opressor/privilegiado, compensando a sensação de desconforto, incerteza e medo em relação ao futuro.

A direita radical é mais sensível à ideia de afastamento da noção do país-nação e ao excesso de diversidade e heterogeneidade (nacionalismo). E ressente-se que o sistema favoreça alguns através de políticas sociais que beneficiam minorias, da concessão de privilégios e permeabilidade à influência das elites.

A esquerda radical, após os anos 60, por força do sucesso das democracias liberais, das sociais democracias, da prosperidade económica e do estado social, divergiu das causas de classes económicas para lutas de grupos minoritários, divididos em caraterísticas como a raça, “género” e orientação sexual, que percepcionam como oprimidas pelo sistema social, político e cultural vigente. O que explica parte do crescimento dos partidos radicais de direita que passaram a integrar boa parte das queixas de desigualdades económicas da esquerda radical, que as substituiu por uma nova esquerda de preocupações mais culturais, “modernas”e urbanas, de um laicismo fundamentalista e salvífico.

2. Simplicidade cognitiva:

Em ambos os lados do espetro, em resultado da desconfiança nas instituições e no sistema, há uma perceção do mundo a preto e branco, simplista, e a procura de narrativas que clarifiquem e forneçam sentido – muitas vezes agregado ao fenómeno das teorias da conspiração mais associado à direita radical/libertária–, resolução e heurísticas a um mundo que sentem como injusto.

A mensagem dos extremos alia o tom do descontentamento com mensagens e slogans simples e propagandisticamente fortes, o imediatismo e o sensacionalismo mediático ajudam a que estes fenómenos proliferem e, muitas vezes, o contraditório surge também no mesmo tom, do outro lado do espetro, e ambos os extremos acabam por se alimentar mutuamente e dependem parte da sua existência um do outro.

3. Crença de superioridade moral absoluta:

O excesso de confiança nos seus julgamentos e na sua visão do mundo e a seleção de informação que vá ao encontro do que acreditam e a supressão da que não é concordante torna difícil o diálogo e a integração da complexidade e moderação.

Uma consequência de tudo isto é a intolerância relativamente a outros grupos ou opiniões, que reflete a crença numa verdade e valores universais, e convicções morais rígidas e inflexíveis, uma espécie de puritanismo evangelizador, a verdade e o caminho.