Londres pede retirada de tropas em "diálogo de surdos" para Moscovo
O Reino Unido apelou hoje à Rússia para retirar as suas tropas das fronteiras da Ucrânia numa reunião entre os chefes da diplomacia dos dois países, que o ministro russo qualificou como um "diálogo de surdos".
Com a sua homóloga Liz Truss ao lado numa conferência de imprensa em Moscovo, Sergei Lavrov disse que não se registou qualquer ponto de aproximação e que a ministra britânica não ouviu as explicações "mais detalhadas" sobre as preocupações russas com o alargamento da NATO.
"Parece que ouvimos, mas não ouvimos", disse Lavrov, citado pela agência espanhola EFE e pela France-Presse (AFP).
Lavrov disse mesmo ter ficado com a sensação de que os britânicos "ou não fazem ideia dos esclarecimentos" dados recentemente pelo Presidente russo, Vladimir Putin, sobre a ausência de intenções bélicas de Moscovo, "ou desconhecem-nas completamente".
"Não estamos a ameaçar ninguém, vejam as declarações públicas, não há uma única ameaça. Somos nós que estamos ameaçados", insistiu Lavrov.
Truss disse que Lavrov lhe comunicou que "a Rússia não está a planear invadir a Ucrânia", como têm repetido as autoridades russas.
"Mas estas palavras precisam de ser seguidas de ação e precisamos de ver tropas e equipamento estacionados na fronteira ucraniana deslocados para outro lugar", disse Truss.
A Rússia é acusada de reunir dezenas de milhares de tropas nas fronteiras da Ucrânia em preparação para uma invasão que os Estados Unidos disseram ser iminente.
Moscovo rejeita estas acusações e argumenta que tem o direito de estacionar as suas forças no seu território como achar conveniente.
A Rússia associa o desanuviamento da tensão às garantias da sua segurança, incluindo uma promessa juridicamente vinculativa de que a Ucrânia nunca se juntará à Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO).
O Ocidente recusa essa garantia, mantendo o princípio de "porta aberta" da NATO.
Lavrov também disse que as tropas russas que iniciaram hoje exercícios conjuntos na Bielorrússia, país vizinho da Rússia e da Ucrânia, regressarão às suas bases quando terminarem as manobras, ao contrário do que acontece, segundo acusou, com as tropas da NATO na Europa de Leste.
"Após manobras militares, as tropas regressam aos seus quartéis, como de costume. No que diz respeito à duração, é o direito soberano de cada governo", disse.
O chefe da diplomacia russa descreveu a reação ocidental aos exercícios que começaram hoje em vários locais da Bielorrússia, alguns deles perto da fronteira ucraniana, como um drama que lembra cada vez mais uma comédia.
"Dentro de algum tempo, os países ocidentais saberão que os exercícios terminaram e que as tropas regressaram ao território russo. Então, será feito um grande barulho para mostrar que o Ocidente conseguiu uma desescalada da Rússia, embora na realidade esteja a vender fumo", disse.
Ao contrário dos exercícios russos, acusou Lavrov, as tropas que os EUA, Reino Unido e Canadá enviam para o Báltico e outros países do Mar Negro permanecem no Europa de Leste.
"Estas tropas e armas, em regra, nunca regressam a casa", disse o ministro dos Negócios Estrangeiros da Federação Russa.
Os exercícios na Bielorrússia, que deverão decorrer até 20 de fevereiro, foram denunciados pelas autoridades ucranianas como um meio de "pressão psicológica" por parte de Moscovo.
Na véspera dos exercícios, os militares russos divulgaram um vídeo em que se vê uma bateria de sistemas antiaéreos S-400 a apontar mísseis para o céu a partir de um campo coberto de neve na região bielorrussa de Brest, que faz fronteira com a Ucrânia.