Ministra da Defesa considera que "obter a paz aceitando a subjugação de povos" é apoiar a guerra
A ministra da Defesa Nacional advertiu ontem que obter a paz aceitando a "subjugação de povos" é apoiar a guerra e defendeu que "não é um apelo bondoso e genérico à paz" que ajuda a resolver conflitos.
Esta posição foi assumida por Helena Carreiras na Igreja de São Domingos, em Lisboa, onde inaugurou, em conjunto com o Presidente da República, uma mostra expositiva alusiva à vigília da Capela do Rato, que começou em 30 de dezembro de 1972, e participou numa conversa sobre o tema "A Paz é Possível: afirmação impossível?", organizada pela Comissão Comemorativa dos 50 anos do 25 de abril.
Nesta intervenção, em que falou em termos abstratos do conceito de paz, mas com algumas alusões à guerra na Ucrânia, a ministra da Defesa Nacional salientou que "é fundamental manter a paz" como "referencial político" e "de ação estratégica da Defesa".
Para Helena Carreiras, esse referencial "não é e não pode ser uma abstração", consistindo, em termos concretos, numa "condição para a prosperidade, para o desenvolvimento", para se poder "viver", "trabalhar", "sonhar", "mandar os filhos para a escola em segurança".
Transpondo esta tese para negociações de paz após cenários de guerra, Helena Carreiras salientou que, também nesses casos, a paz "não pode ser uma abstração".
"Quando digo isto, quero dizer o seguinte: não é independente a paz que vamos ter das condições concretas, das circunstâncias em que podemos terminar as guerras e instaurar a paz. Não é um apelo bondoso e genérico à paz que nos pode ajudar a resolver as guerras e os conflitos", sustentou.
Dando o exemplo da guerra na Ucrânia, Helena Carreiras sublinhou que "é diferente falar do momento anterior à invasão e depois: as circunstâncias mudam e, com certeza, as condições também mudam".
"Portanto, a guerra não é uma abstração, é algo muito real: há eventos, há processos, e obter a paz aceitando opressão, aceitando invasão, aceitando essa subjugação de povos não é resolver a guerra, é apoiá-la, e quem a iniciou. Não é, portanto, promover a paz", defendeu.
A ministra da Defesa considerou assim que "é preciso qualificar a paz" e "a paz talvez precise de ser adjetivada", para saber se se está a falar de "uma paz digna, de uma paz completa, sustentável".
"Digo isto não no sentido de que seja universal - tem que ser uma paz universal enquanto valor - mas no sentido em que uma paz de escravidão, uma paz de submissão, uma paz que é resultado ou é mantida pela brutalidade repressiva, não é uma paz desejável nem uma paz sustentável, talvez alguns não lhe chamem paz de todo", indicou.
Falando depois da Ucrânia, Helena Carreiras salientou que se "podem aplicar um pouco estas ideias, estes princípios" àquele cenário de guerra.
"Há um invasor e há um invadido, houve uma invasão brutal porque foi para além dos objetivos militares, porque violou as leis da paz, as leis do direito internacional, as leis do Estado de direito em que queremos fundar as nossas sociedades, e violou as leis da guerra, que dizem que não atacamos civis, que não atacamos os mais fracos", frisou.
Questionando-se sobre o que é que a invasão da Ucrânia tem a ver com a sociedade portuguesa, Helena Carreiras respondeu de seguida que "tem tudo, porque está em causa a segurança da Europa como um todo, porque as possibilidades reais de que ambições imperiais se estendam, existe".
"Portanto, eu diria que, em relação à Ucrânia, as condições são as que temos que entender esta guerra, compreender estas circunstâncias que acabei de enunciar, para dizer que paz queremos e em que condições as podemos conquistar", concluiu.