São os salários, estúpido!
Se não mudarmos rapidamente de paradigma económico, não há esperança para um futuro na nossa Região
Melhores salários e rendimentos das famílias deverão ser o foco da governação que temos pela frente, pela sua importância no desenvolvimento da nossa sociedade e no crescimento da nossa economia, na melhoria do nível de vida de todos os cidadãos, na redução das desigualdades e erradicação da pobreza.
A verdade é que na Região Autónoma da Madeira chegamos a um ponto onde verificamos os resultados e consequências de escolhas e opções erradas, um modelo económico esgotado, estamos na cauda do País. Os madeirenses são os cidadãos portugueses com menor poder compra, menores rendimentos médios mensais líquidos, maior taxa de desemprego, maior taxa de risco de pobreza e exclusão social.
Mais de 88% dos trabalhadores assalariados madeirenses ganham o correspondente ao salário mínimo, dados de 2019 e que não se alteraram. A esmagadora maioria dos trabalhadores na Madeira ganha apenas o salário mínimo. Se não mudarmos rapidamente de paradigma económico, não há esperança para um futuro na nossa Região.
Só há uma conclusão certa. Não é nas obras, onde são derramados centenas de milhões em betão, que veremos a desejada mudança. Estamos a desperdiçar os nossos recursos financeiros em opções erradas, e nunca veremos o retorno necessário nesse investimento, e assim não iremos conseguir proporcionar às famílias madeirenses o crescimento e as oportunidades que merecem e anseiam.
Não temos sabido criar verdadeiras oportunidades. A Madeira não tem criado as condições necessárias para fixar os madeirenses na região, sendo forçados a emigrar. Estas pessoas poderiam ter alcançado os seus objetivos aqui na Madeira e não noutro país, e com isso também contribuir para o desenvolvimento da nossa Ilha.
Saíram da Região cerca de 25 mil pessoas na última década. Um décimo da população! Entre entradas e saídas, dado que houve muitos regressados da Venezuela, o saldo negativo é de 17 mil pessoas. Será que conscientemente a população sente que nos últimos anos a sua vida melhorou? Será que considera que está a ganhar melhor? Que terá melhores oportunidades no futuro? Que os seus filhos ou netos terão a vida que merecem e desejam?
Há muito que se verifica na Madeira uma política de baixos salários, o que favorece o trabalho precário e as dependências dos trabalhadores madeirenses. São vários os testemunhos que ouvimos de precariedade laboral em especial nos ramos de hotelaria e construção civil.
É preciso qualificar a Região, pois é comprovado que maior qualificação, melhores salários, geram maior produtividade e crescimento económico. É pena que ainda não tenham percebido isso aqui na nossa Região. Pelo contrário, não há oportunidades para os mais qualificados. Vêem-se obrigados a sair da Madeira, para fugir a uma pobreza certa.
O curioso é que o rendimento médio mensal líquido dos trabalhadores não qualificados na Madeira, abrangendo a maioria dos trabalhadores do sector da construção civil e turismo, foi de 573 Euros. Mas no que toca aos altos quadros, abrangendo políticos, dirigentes, diretores e gestores executivos, a Madeira consegue a proeza de estar no topo nacional, com o maior rendimento médio para esta categoria.
Somos uma Região de pobres com muitos ricos. Temos de mudar.