Governo britânico aprova primeira mina de carvão no Reino Unido em 30 anos
O Governo britânico aprovou hoje a criação de uma nova mina de carvão no norte de Inglaterra, a primeira em quase 30 anos, atraindo críticas da oposição e de grupos ambientalistas.
A mina na região de Cumbria vai produzir carvão "coque", utilizado exclusivamente a indústria metalúrgica e não para a produção de energia, que até agora tem sido importado de outros países, nomeadamente Austrália e Estados Unidos.
Num documento onde é confirmada a decisão do ministro do Nivelamento, Habitação e Comunidades, Michael Gove, este diz-se "satisfeito por existir um mercado para o carvão no Reino Unido e Europa" e que, embora não exista consenso, "é altamente provável que continue a existir uma procura mundial elevada".
Embora o Reino Unido tenha feito pressão na cimeira climática COP26 do ano passado em Glasgow para acabar com o uso do carvão, o Governo britânico diz que a nova mina é compatível com a legislação climática que exige a neutralidade carbónica até 2050.
A West Cumbria Mining, a empresa por detrás do projeto, estima que irá atrair 165 milhões de libras (190 milhões de euros) de investimento privado para a região inglesa, cerca de 500 postos de trabalho e produzir 2,8 milhões de toneladas de carvão de coque por ano.
O grupo ambientalista Friends of the Earth criticou a autorização, afirmando que "é a decisão errada, um erro profundamente prejudicial que ignora todas as provas disponíveis".
"A mina não é necessária. Vai aumentar as emissões mundiais e não vai substituir o carvão russo", criticou o ativista do grupo, Tony Bosworth.
Também lamentando a decisão, a deputada do Partido Verde, Caroline Lucas, disse que o que o Reino Unido precisa é de "uma estratégia industrial limpa e verde para o futuro".
O antigo presidente da COP26, Alok Sharma, antigo ministro do Partido Conservador, questionou o interesse da mina, alegando que 85% do carvão produzido será para exportação porque excede a necessidade nacional.
"A abertura de uma nova mina de carvão não só será um passo atrás na ação climática do Reino Unido, como também prejudicará a reputação internacional duramente conquistada pelo Reino Unido", afirmou através da rede social Twitter.
O aumento dos preços do gás resultante da guerra na Ucrânia forçou o Reino Unido a reavaliar a sua política energética e quase duplicou as importações de carvão para produzir eletricidade, invertendo a tendência dos últimos anos de usar mais gás e energias renováveis.
Nos primeiros 10 meses deste ano, o Reino Unido importou mais de 5,5 milhões de toneladas de carvão, ultrapassando os 4,2 milhões de toneladas ao longo de todo o ano de 2021, segundo a consultora Kpler, citada pelo jornal The Times.
Nos últimos meses também aprovou mais explorações de petróleo e de gás do Mar do Norte, embora mantenha como objetivo produzir 100% de eletricidade a partir de fontes de energia limpas até 2035 e atingir a neutralidade carbónica até 2050.