EUA já não consideram Pedro Castillo como o actual Presidente do Peru
O Departamento de Estado norte-americano disse hoje que já não considera Pedro Castillo o atual Presidente do Peru, após a tentativa deste de dissolução do parlamento, órgão que votou depois, por larga maioria, a sua destituição do cargo.
"O que eu entendo é que, com a ação do Congresso, agora é o ex-presidente Castillo", sublinhou o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Ned Price, em declarações aos jornalistas, reconhecendo o papel dos deputados.
O parlamento do Peru aprovou hoje uma moção de censura contra o Presidente do país por "incapacidade moral", com 101 dos 130 votos a favor, horas depois de Pedro Castillo ter anunciado a dissolução deste órgão, a criação de um "governo de emergência" e a instituição de um recolher obrigatório.
Castillo foi depois detido e encontra-se na sede da polícia de Lima, acusado de tentar executar um golpe de Estado.
Após a decisão de Pedro Castillo, os norte-americanos tinham já rejeitado qualquer "ato extraconstitucional" e instado o governante a reverter as ações, apelando também à calma entre os peruanos perante a incerteza política desencadeada no país.
Espanha também condenou "a rutura da ordem constitucional" perpetrada por Pedro Castillo, manifestando, depois, satisfação com a "restauração da normalidade democrática" depois da destituição do chefe de Estado pelo Congresso.
"A Espanha estará sempre do lado da democracia e da defesa da legalidade constitucional", sublinhou o governo espanhol, no comunicado divulgado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros.
Já o governo da Colômbia expressou solidariedade com "o povo irmão do Peru", apelando ao diálogo e condenando "todos os ataques contra a democracia".
Perante a incerteza política no Peru, a Organização dos Estados Americanos (OEA) convocou para hoje uma sessão extraordinária.
Em comunicado, a OEA referiu que a sessão extraordinária do seu Conselho Permanente iria começar às 20:00 de Lisboa, sendo esperado que este órgão vote a aprovação de uma declaração conjunta sobre os acontecimentos no Peru.
Após a destituição de Castillo, o Congresso pediu que a vice-Presidente Dina Boluarte, que rejeitou de imediato as ações do chefe de Estado, assuma a presidência, conforme consta na Constituição, noticiou a agência Europa Press.
Boluarte foi convocada para as 15:00 (20:00 de Lisboa) de hoje para tomar posse como a nova chefe de Estado e, desta forma, tornar-se a primeira mulher governante da história do país.
Castillo tinha divulgado que até à formação de um novo parlamento, "o Governo seria dirigido por decreto-lei", referindo que pretendia "convocar o mais rápido possível um novo Congresso com poderes constituintes para redigir uma nova Constituição num período não superior a nove meses".
Membros do seu próprio governo, instituições estatais peruanas e líderes da oposição denunciaram a tentativa de um "golpe de Estado" e solicitaram a intervenção das Forças Armadas e da comunidade internacional.
Os ministros da Economia, dos Negócios Estrangeiros, do Trabalho e da Justiça do Peru renunciaram aos cargos em protesto com a decisão de Castillo.
A Provedoria do Povo, órgão autónomo do governo, referiu em comunicado, antes desta votação pelo Congresso, que, após anos de democracia, o Peru estava a caminho de um colapso constitucional "que só pode ser chamado de golpe [de Estado]".
Já os chefes conjuntos das Forças Armadas e a Polícia Nacional do Peru rejeitaram a constitucionalidade da dissolução do Congresso por Castillo, segundo um comunicado citado pela AP.
A nível internacional, o embaixador peruano nos Estados Unidos, Oswaldo de Rivero, o representante na ONU, Manuel Rodríguez Cuadros, e o embaixador na Organização dos Estados Americanos (OEA), Harold Forsyth, já anunciaram a renúncia aos cargos.