A Seleção, a política e o Presidente
Quase tudo por estes dias se passa em redor da Seleção e do Presidente da República. Em relação ao futebol e ao impacto que tem na sociedade portuguesa é uma realidade e eu – adepto de futebol – também comparticipo para esse status quo. Mas, há mais na vida para além do futebol. E se o espaço que o futebol ocupa em grande parte da sociedade portuguesa já é enorme, não faz muito sentido que o poder político se ancore na seleção nacional para exaltar o patriotismo luso. Todos preferíamos ser campeões mundiais do emprego, da igualdade de direitos e da economia, entre outros temas tão relevantes nas nossas vidas. A importância que as principais figuras do Estado dão a este fenómeno só o reforça e o legitima. Além do mais padecem de uma extrema injustiça, porque não os vejo a apanharem um avião para verem as provas dos atletas portugueses que, nos Jogos Olímpicos, lutam por medalhas e as conquistam. Dentro das principais figuras do Estado há uma cuja atuação política (este texto é sobre política e não sobre desporto) roça o ridículo e só desprestigia o cargo e a função: a do presidente da República. Marcelo é um homem com uma carreira profissional notável e que não precisou da política para ser quem é. É um entre nós e tenho-o como uma pessoa séria. Sobre as intervenções diárias do Presidente (que não consegue conter-se sobre tema algum) já estamos infelizmente habituados, mas comentar jogos ao intervalo, fazer da Seleção tema de análise e fervor durante semanas a fio é figura à qual gostaria que o nosso primeiro representante nos dispensasse. Tudo aquilo é assaz hilariante. Gostaria de achar que as frequentes rábulas sobre Marcelo feitas por Ricardo Araújo Pereira fossem apenas isso, um exercício de humor. Mas são, aos meus olhos, muito mais do que isso: são a forma simples de fazer ver aos portugueses que “o rei vai nú”. Eu também gosto de futebol, mas cada jogo tem 90 minutos e na nossa vida coletiva há muitos temas que nos deveriam preocupar muito mais. A nós e a quem nos representa. Sobre a Seleção, há Ronaldo a mais. Sobre o presidente, não teve o meu voto e não estou nada arrependido. [email protected]