Mundo

Presidência sueca da UE herda crises num contexto de guerra sem fim à vista

None

A Suécia assume a 01 de janeiro a presidência do Conselho da União Europeia (UE), herdando da liderança semestral checa um cenário de crise económica e energética, ainda e sempre com a guerra na Ucrânia como pano de fundo.

O bloco comunitário entrará em 2023 num contexto muito pouco animador, debatendo-se com uma crise económica que ameaça agravar-se e que poderá mesmo transformar-se em recessão, à luz de uma inflação galopante e de uma escalada dos preços da energia, ao mesmo tempo que procura prevenir problemas de aprovisionamento de gás.

Como pano de fundo, e à semelhança do ocorrido durante toda a presidência da República Checa, no segundo semestre do ano, e boa parte da liderança rotativa francesa, no primeiro, está a guerra na Ucrânia, lançada em fevereiro pela Rússia, e que é em boa parte responsável pela crise económica e energética, até porque, segundo a UE, Moscovo tem vindo a utilizar a energia como arma de guerra.

Com a generalidade dos líderes políticos e analistas a prognosticarem que o conflito vai arrastar-se ao longo de 2023, a unidade dos 27 do bloco europeu na resposta à agressão militar russa à Ucrânia, que foi encarada como um dos grandes sucessos da União em 2022, estará também no topo das prioridades da presidência sueca do Conselho.

Na apresentação das prioridades de Estocolmo para o próximo semestre europeu, feita perante o parlamento sueco a 14 de dezembro, o primeiro-ministro sueco, Ulf Kristersson, que assumiu o cargo apenas em outubro passado, anunciou que a segurança interna e externa da UE estará no topo das prioridades.

"A nossa principal tarefa será ajudar a garantir a segurança da Europa [...]. A União que se tornou sinónimo de paz, liberdade e comércio vive agora ao lado de um tipo de guerra que outrora criou a própria necessidade da UE. A tarefa principal da nossa presidência será, portanto, ajudar a garantir a segurança da Europa. Ao defender sistematicamente a Ucrânia, mas também, num mundo cada vez mais inseguro, sublinhando o significado geopolítico da UE", declarou.

O chefe do Governo sueco assumiu que a guerra na Ucrânia marcará os seis meses da presidência sueca da UE e sublinhou que está preparado para "agir de forma rápida e decisiva".

Kristersson, convervador, lidera um governo minoritário de direita, com o apoio parlamentar dos Democratas Suecos, de extrema-direita, o que suscita alguns receios de que matérias que estão no topo da agenda da UE não conheçam grandes desenvolvimentos no próximo semestre, casos do combate às alterações climáticas e migrações.

A Suécia recebe a presidência rotativa do Conselho da UE das mãos da República Checa, que pode dar por cumprida a sua missão, já que ao longo do segundo semestre de 2022 conseguiu manter a unidade dos 27 na resposta às crises e, designadamente, à guerra, tendo mesmo conseguido fechar dossiês que estavam bloqueados há meses por aquela que será atualmente a única voz dissonante na União, a do primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán.

Algumas das grandes conquistas da presidência checa tiveram lugar já na reta final da sua presidência, designadamente o acordo alcançado relativamente a um limite ao preço do gás importado e a aprovação do pacote de ajuda macrofinanceira à Ucrânia para 2023, de 18 mil milhões de euros, assim como o compromisso ao nível dos 27 em torno de um imposto mínimo para as grandes empresas.

Estas conquistas, no entanto, também se devem à pressão sob a qual estava Budapeste, que estava em risco de perder todos os fundos do seu Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), pelo que teve de aceitar a sua aprovação condicional, bem como o congelamento de 6,3 mil milhões de euros em fundos de coesão, e levantar os vetos que estava a utilizar como arma negocial.

No reverso da medalha, a presidência checa não conseguiu encerrar com sucesso o processo de entrada da Bulgária e da Roménia no espaço Schengen de livre circulação de pessoas, devido ao bloqueio da Áustria e dos Países Baixos.

Praga reconhece que essa foi uma das poucas matérias onde não atingiu os objetivos a que se propunha.

A presidência sueca do Conselho da UE decorre entre 01 de janeiro e 30 de junho de 2023, com Estocolmo a passar os comandos a 01 de julho à Espanha, a presidência que se segue.