Fé, fanatismo ou ignorância?
Ainda cheira a Natal, uma quadra vivida de mãos dadas com o sagrado e o profano que nos convida a refletir e moderar a fé para evitar o fanatismo. Se a fé nos dá esperança no futuro o fanatismo, cega-nos, tolhe-nos o bom senso e compromete esse futuro. Ser crente ao ponto de não ver a realidade para acreditar no hipotético é fechar os olhos e a mente às evidências e que basta ter fé e acreditar num deus omnipresente que resolverá todos os nossos problemas.
Desde sempre os povos idolatraram deuses e até mesmo nas grandes catástrofes mundiais, o crente acredita que foi obra dos deuses com determinado fim pedagógico e agarra-se com mais fervor à fé.
Fazendo uma breve resenha histórica sobre algumas das grandes catástrofes mundiais que sacrificaram milhões de vidas humanas mas os diversos deuses não mexeram uma palha para salva-los. Pompeia, cidade romana, foi destruída no ano 79 DC pelo vulcão do Monte Vesúvio e apesar das promessas dos poderosos romanos e das preces dos escravos Celtas, em menos de 20 minutos petrificou, sem misericórdia, milhares de seres humanos. O Terramoto Antioquia no império Bizantino, em 526 que matou mais de 250.000 pessoas. O terramoto Shaaxi em 1556 na China que provocou 830.000 mortes. O ciclone de Calcutá, na Índia em 1737 que provocou 300.000 mortes. O ciclone Caringa ,também na Índia, em 1839 matou mais de 300.000 pessoas. A inundação do Rio Amarelo, China, em 1887 que arrastou 900.000 pessoas para a morte. E mais recentemente: Tufão Nina em agosto de 1975, na China, com 229.000 mortos. O terramoto de Tangshou, na China em junho de 1976 que levou 600.000 vidas ou o Tsunami no Oceano Índico, em 2004 que ceifou a vida a 226.000 pessoas, para não falar em tantas outras catástrofes naturais que causaram sofrimento e dor. Onde estavam esses venerados deuses para evitar tanto sofrimento?
Não há um Deus universal visto que vários países tem um culto pensado e idealizados por homens em diferentes épocas ; os cristãos acreditam em Jesus Cristo cujo pai é Deus e ainda há o mistério da Santíssima trindade para onde é remetido o inexplicável, ou seja quando não há explicação racional. Os chineses, um povo milenar, acreditam em Lei- Kong, o senhor do trovão, Cheu- Sing, o deus da longevidade ou Wen Tchang, o deus da literatura. Os indianos adoram Shiva, Kali e Brahma. A mitologia grega fala dos 12 deuses do Olimpo entre eles Osiris, Amon, issis e Rá. Assim, o que parece um facto é que nós, seres humanos somos fracos e precisamos agarrar-nos à fé ou acreditar num líder onipotente para disfarçar as nossas fraquezas.
A acreditar cegamente num deus pai misericordiosos e infinitamente bondoso que prolifera na crença dos vários povos do Mundo, vale a pena meditar e questionar-se: Um ser poderoso e bom permitiria tantas catástrofes, tanto sofrimento e morte de seres humanos que idolatram esses mesmos deuses? Haverá algum fim didático que justifique tais atrocidades? Não será uma forma de ignorância consentida ou uma forma de empurrar para um deus omnipresente os problemas que não conseguimos resolver? Não será uma fé cega quando nos arrastamos de joelhos com um círio nas mãos a pedir resolução para as nossas maleitas? Depois recorremos à ciência médica mas continuamos a afirmar que foi Deus que operou um milagre. Não será uma forma de fanatismo provocar uma guerra matando milhões e fazendo sofrer outros tantos? Não será um fanatismo irracional um muçulmano se fazer explodir para matar inocentes acreditando que Alá os espera com 7 virgens à ilharga? Não será uma ignorância atroz ou incapacidade de analisar a realidade que nos rodeia?
Nasci e continuo cristão mas a fé não me impede de raciocinar e acredito que o céu e o inferno são apenas crenças espirituais. Acredito que Deus ou o diabo está em cada um de nós e é medido pelos nosso atos e ações, quando praticamos o bem e estamos bem com a nossa consciência, somos deuses. Quando praticamos o mal e infligindo sofrimento a outrem, somos diabos.
Perdoem-me os crentes pois a intenção é meramente didática e pretende apenas chamar a atenção para os excessos cometidos em nome de um qualquer deus.
Para memória futura: Escrevi na “Opinião” de setembro 22 que estamos a caminhar a passos largos para a subsídio- dependência estatal. Já é impossível subsistir sem a solidariedade social.
A todos os leitores, colaboradores e direção do DN um próspero ano de 2023.