Embaixador da Rússia em Belgrado diz que situação no Kosovo é "muito perigosa"
O embaixador da Rússia em Belgrado, Alexander Botsan-Jarchenko, advertiu hoje que a situação de tensão entre a Sérvia e o Kosovo está a agravar-se e a dirigir-se para um cenário "muito perigoso".
De acordo com o representante diplomático russo, a situação "está a aquecer", em particular no norte do Kosovo, e alertou que em qualquer momento pode ocorrer "uma provocação".
"Pristina está a aumentar a sua presença militar", assinalou Botsan-Jarchenko em entrevista à cadeia televisiva Zvezda, difundida pela agência noticiosa russa TASS, acusando as autoridades kosovares de tentarem controlar as zonas de população sérvia.
O embaixador alertou que Pristina está a cumprir a missão ordenada pelo ocidente de "colocar sob controlo as áreas habitadas por sérvios no Kosovo".
Um grupo de sérvios bloqueou desde a manhã de hoje uma estrada na cidade de Mitrovica, norte do Kosovo, em plena escalada de tensões registadas nesta região dos Balcãs desde há várias semanas.
Este bloqueio surge um dia após a missão da NATO no Kosovo ter anunciado uma investigação devido a um tiroteio sem feridos na localidade de Zubin Potok.
O Presidente da Sérvia, Aleksandar Vucic, ordenou na noite de segunda-feira ao Exército que se coloque "no mais alto nível de preparação para o combate". Horas antes, o líder sérvio tinha afirmado que o seu Governo adotaria "medidas para proteger" os sérvios.
Em meados de dezembro a Sérvia pediu à NATO para colocar 1.000 efetivos de segurança sérvios no Kosovo, um pedido sem precedentes e baseado numa resolução das Nações Unidas, apesar de Vucic ter então admitido não prever uma autorização da Aliança Atlântica, que acabou por recusar a medida.
A Sérvia continua a considerar o Kosovo como parte integrante do seu território e Belgrado beneficia do apoio da Rússia e da China, que à semelhança de dezenas de outros países (incluindo Índia, Brasil África do Sul ou Indonésia) também não reconheceram a independência do Kosovo.
A secessão unilateral da ex-província do sul da Sérvia autoproclamada em 2008 ocorreu na sequência de uma guerra iniciada por uma rebelião armada albanesa em 1997 que provocou 13.000 mortos, na maioria albaneses, e motivou uma intervenção militar da NATO contra a Sérvia em 1999, à revelia da ONU.
Desde então, a região tem registado conflitos esporádicos entre as duas principais comunidades locais, num país com um terço da superfície do Alentejo e cerca de 1,8 milhões de habitantes, na larga maioria de etnia albanesa e religião muçulmana.
O Kosovo independente, cujo Governo pretende impor a sua autoridade em todo o território, foi reconhecido por cerca de 100 países, incluindo os Estados Unidos, que mantêm forte influência sobre a liderança kosovar, e a maioria dos Estados-membros da UE, à exceção da Espanha, Roménia, Grécia, Eslováquia e Chipre.