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As formas do vento

Dezembro, o Inverno à porta com cheiro a Natal, pequeno-almoço, o neto, de quatro anos, faz um desenho de um barco que flutua suavemente num mar desenhado com algumas ondas, replicadas quase por igual no céu alto, parecendo nuvens a bailar em par com o mar abaixo.

“São nuvens?” pergunta a Avó.

“Não Avó, é o vento”, responde o neto com um ar de espanto a querer dizer “então não se vê que é o vento!”

“A mim parecem nuvens” diz o Avô, só para contradizer, comentário que o neto ignora, fazendo uma pergunta à Avó: “qual é e forma do vento, Avó?”

Qual é a forma do vento? perguntaram-se Avó e Avô, um pouco embatucados com a interrogação.

Se já é difícil explicar a uma criança de quatro anos como se forma o vento, dar-lhe forma afigurava-se uma missão quase impossível, levando a que os avós balbuciassem qualquer coisa até o neto esquecer a pergunta ausentando-se da resposta, o que não veio a acontecer. É insistente, o rapaz!

A resposta - o vento é causado por diferenças na pressão atmosférica, deslocando-se da área de maior pressão para a área de menor pressão; estas diferenças são o resultado do aquecimento heterogéneo da atmosfera – seria a forma fácil de explicar a quem já tem algum entendimento, mas a pergunta não tinha sido essa, a pergunta não tinha sido o que é o vento, mas sim que forma tem o vento?

Uma resposta simples, dizendo que o vento não tem forma, que não o podemos ver, mas só senti-lo, não iria satisfazer a curiosidade infantil, e explicar como se forma também não tem interesse para a mesma curiosidade.

É necessária uma lufada diferente

(lufada é um vento de curta duração e elevada velocidade),

é necessário que a sua (e nossa) imaginação acompanhe a explicação de que os ventos têm causas e durações diferentes, tanto que podem causar tempestades e ondas altas para embalançar o barco desenhado.

O vento começa a tomar forma quando se começa a perceber que afinal não tem forma.

O vento sopra os galhos das árvores e faz cair as folhas no Outono,

o vento é trova que passa a trazer notícias dos que estão longe quando a saudade aperta,

o vento traz o cheiro dos bolos de mel acabados de fazer quando passamos na rua da padaria que os tem no forno,

o vento embala a aranha na sua teia,

o vento faz as nuvens passearem em calma aparente, ora carregando consigo chuva, ora sombra, ou tão simplesmente pintando o céu com o colorido que o Sol, raiando, empresta.

O vento, quando semeado sem sentido ou critério, faz com que se colham tempestades tantas vezes desnecessárias e incompreensíveis,

o vento tem forma de guerra quando os homens não se entendem, fazendo-o soprar com o rebentar das bombas que destroem tudo o que tinha sido criado,

o vento da estupidez dos homens não se acalma em bonança, mantendo forma de Adamastor a assustar quem passa pelo seu caminho.

O vento pode ter a forma que cada um lhe quiser dar na esperança de uma bonança depois da borrasca.

Que os ventos bonançosos a tragam a esperança que Cristo proclamou e que os homens celebram na memória do seu nascimento.

Jesus pregou a bonança contra os ventos de tempestade da impiedade humana e é esse espírito de bonança que faz com que o Natal tenha um significado especial, mesmo para quantos não creem nos seus ensinamentos posteriores.

Com esperança no regresso de ventos calmos e suaves, cheios de cores e sabores de coisas boas, desejo a todos a continuação de umas Festas Felizes e de um Ano Novo livre de tempestades!